quinta-feira, 31 de outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Desenho (10º ano)-Trabalho 5: Desenhar com papel
Vamos experimentar uma técnica que tem por base o recorte e
colagem.
Vamos procurar formas de representar a figura humana.
O resultado poderá ser uma figura bem evidente…
… ou mais ambígua e desconcertante.
Proposta de trabalho
1ª
tarefa
Sobre um suporte de tamanho A4 executa um trabalho de recorte e colagem.
Deves criar um par de figuras antropomórficas.
antropomórfico
(antropomorfo
+ -ico)
1. Que é semelhante ao homem.
2. Que tem forma humana.
3. Relativo a antropomorfo ou a antropomorfismo.
Toma em consideração as diferentes partes que constituem o
corpo humano:
- Cabeça
- Tronco
- Membros
Procura criar duas figuras dinâmicas que transmitam alguma
sensação de movimento.
Os elementos que seleccionares não têm de ser, obrigatoriamente, partes do corpo
correspondentes.
Podes utilizar objectos, partes de outros animais ou, simplesmente, elementos
recortados ou rasgados que simbolizem as partes do corpo que queiras
representar.
Seja qual for a tua opção de construção da forma, esta deverá sempre
destacar-se claramente do fundo.
O fundo será
o branco da folha que vai servir
de suporte à colagem.
Proposta de trabalho
2ª
tarefa
Sobre um suporte de tamanho A4 executa um desenho que reproduza o mais fielmente possível
as figuras que criaste na tarefa anterior.
Podes recorrer à técnica de decalque para encontrar, pelo
menos, o contorno exterior das formas que criaste na colagem.
Utilizando lápis de cor e lápis de grafite reproduz, com o máximo
de pormenor que fores capaz, os diferentes elementos que constituem a tua
colagem.
quinta-feira, 30 de maio de 2013
Cultura da catedral - Ficha de Trabalho
Curso
Profissional de Animação 2D 3D
História da Cultura e das Artes –
Módulo 4 – A Cultura da Catedral
Ficha de trabalho
As tuas respostas devem ser registadas numa
folha A4 pautada ou quadriculada
No século XII a Europa conheceu um lento
crescimento económico.
O desenvolvimento das técnicas e processos
agrícolas* permitiram uma produção excedentária o que levou a um
crescimento demográfico com vantagens para as condições de vida da população.
A indústria e o comércio voltaram a
desenvolver-se e deu-se o reaparecimento das feiras que impulsionaram o crescimento
das cidades.
1.No contexto acima descrito, surgiu
nas cidades (burgos) uma nova classe
social que veio a ganhar grande protagonismo. Qual a designação dessa classe social?
2.Os senhores feudais perderam
poder político e económico. Explica
porquê.
Mas o crescimento da Europa medieval conheceu
períodos de grandes dificuldades. Vários factores contribuíram para uma séria
recessão económica em meados do século XIV.
A Peste Negra, trazida do Oriente, provocou
uma grande quebra demográfica pois matou entre um terço a metade da população
europeia.
3.A Peste Negra foi uma pandemia.
Explica o que entendes por pandemia.
4. Escreve um pequeno texto no qual exponhas a tua visão pessoal sobre o surto de Peste Negra na Europa
do século XIV e as suas consequências sobre o modo de viver e pensar das
populações afectadas.
A partir do século XII o mundo urbano
renasceu na Europa, após séculos de ruralidade.
As cidades voltaram a dinamizar a vida
económica, social e cultural, enfraquecendo o poder e a importância dos
senhores feudais.
5. Caracteriza de forma sumária uma cidade medieval indicando os
aspectos que te pareçam mais significativos (edifícios e espaços urbanos).
O renascimento das cidades criou também uma
nova cultura popular, mais profana e humanista, que se fez notar
primeiramente nas cidades. Foi uma cultura essencialmente oral, gerada nas
muitas festas e romarias que nessa época se organizavam.
6.Era comum representarem-se autos. Explica o que entendes por auto.
7. Nos meios cortesãos começaram a gerar-se
novas regras sociais. Caracteriza sumariamente
essas novas regras.
A catedral foi, nesta época, o símbolo das
cidades e o motivo de orgulho dos seus habitantes que participavam activamente
na sua construção. O estilo arquitectónico dessa catedrais foi designado como
gótico.
8.De que forma participavam os
habitantes da cidade na construção da sua catedral?
Observa atentamente a imagem.
9.Partindo da observação da
imagem caracteriza o aspecto exterior da catedral gótica.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
O vitral (Catedral 6)
A palavra
vitral usa-se para designar uma vidraça feita de múltiplos pedaços de vidro
colorido que compõem cenas e personagens que ganham brilho e visibilidade
quando a luz do sol a atravessa, iluminando o interior.
Os vitrais
góticos substituíram as pinturas a fresco que caracterizaram os interiores dos
templos românicos, mantendo uma função didáctica, representando principalmente
cenas religiosas do Antigo e do Novo Testamento
Os vitrais
têm um aspecto marcadamente linear visto que os vidros são unidos com caixilhos
de chumbo. Os vidros são, predominantemente, de cores primárias (vermelho,
amarelo e azul) e compõem cenas complexas e densas que se adaptam à forma e
espaço das aberturas (janelas) a preencher.
Os vitrais
conferiam à Casa de Deus uma atmosfera luminosa que permitia o ambiente místico
tão desejado pela religiosidade da época.
Arte gótica - Arquitectura Religiosa (Catedral 5)
A arte gótica caracteriza-se pela sua verticalidade, pela luz
(associada à ideia de Deus) e por uma extraordinária atenção ao detalhe.
A catedral gótica é a casa de Deus, por excelência, ligação entre o Céu
e a Terra.
A fachada,
ladeada por duas torres ascendentes, evoca a ideia de Porta do Céu, magnífica
entrada do Paraíso.
A
iconografia* da porta principal harmoniza a governação das coisas do espírito e
das coisas terrenas (representando profetas e reis) bem como glorifica Cristo e
Maria.
Iconografia*
s.f. Estudo
dos assuntos representados nas obras de arte, de suas fontes e de seu
significado.
A nave
central, através da sucessão das suas arcadas, conduz o visitante até ao
altar, situado na abside.
O olhar sobe
até à abóbada inundada de luz que representa a concepção gótica de Deus e
simboliza a glória da Sua presença.
Arquitectura
A
arquitectura gótica teve na catedral urbana a sua melhor forma de expressão.
Do ponto de
vista construtivo, o gótico não se apresenta como um estilo novo, pois nasceu
da evolução técnica dos métodos de construção do românico. Mantém a planta
em forma de cruz com 3 ou 5 naves, o transepto, a abside,
mas revela novas formas de conceber o espaço através da utilização do arco
quebrado ou arco em ogiva, a sua principal invenção técnica.
Adoptado nas
construções, este novo arco, mais elástico e flexível, permitiu criar novas
formas de cobertura; as abóbadas de cruzaria de ogivas.
Virtualmente
mais leves, as abóbadas ogivais puderam ser construídas a níveis cada
vez mais altos, o que agradava à estética da época.
Isso obrigou
ao reforço dos apoios exteriores, aparecendo assim um novo tipo de
contraforte, mais esbelto e elegante.
Este era
constituído por um elemento maciço e vertical, o botaréu, que se
conjugava com os arcobotantes, meios arcos que ligavam a abóbada
central ao botaréu.
Os
arcobotantes transferiam para os botaréus (e destes para os alicerces, no chão)
as pressões exercidas pelas abóbadas, tornando possível o seu extraordinário
equilíbrio.
Esta técnica
construtiva exigiu conhecimentos avançados, sofisticadas maquinarias e,
sobretudo, uma correcta concepção prévia de toda a obra.
Foi graças a
estas novas técnicas que a arquitectura gótica conseguiu concretizar os novos
princípios estéticos que tanto a caracterizam:
-
maior verticalidade
-
amplitude dos espaços internos
-
luminosidade conseguida pelas amplas
janelas preenchidas com vitrais, que rasgavam as paredes de um pilar a outro.
A Cultura Cortesã (catedral 4)
O
renascimento das cidades criou também uma nova cultura popular, mais
profana* e humanista, que se fez notar primeiramente nas cidades. Foi uma
cultura essencialmente oral, gerada nas muitas festas e romarias que nessa
época se organizavam.
*Profano
adj. Que é
estranho, que não pertence à religião. / Que viola a santidade de coisas
sagradas. // Música profana, a que não é religiosa.
Era comum
fazerem-se procissões e representarem-se autos*, seguidos de danças e cantares
animados por menestréis*, jograis e artistas de circo que se exibiam nas ruas e
nas praças.
*Auto
s.m. Peça
teatral em forma poética, de origem medieval, que focaliza temas religiosos e
profanos. Criação essencialmente popular, apresenta uma linguagem que integra
vocabulário e expressões consagradas pelo povo. Divide-se em partes declamadas,
bailados e cantos, geralmente acompanhados por pequenos conjuntos musicais.
*Menestrel
s.m.
Músico-poeta ambulante da Idade Média.
Os textos
desses cantares eram poesias simples ditos na língua vulgar e acompanhados por
música. Falavam da amor ou brincavam com situações e figuras do quotidiano.
Assim surgiu o primeiro género das literaturas nacionais europeias: a poesia
trovadoresca (em Portugal as cantigas de amigo, de amor e de escárnio
e maldizer). Trovadores
profissionais levaram este género para os serões das cortes reais.
A época
gótica conheceu uma suavização dos costumes e das mentalidades, facto para o
qual a Igreja muito contribuiu, instituindo um novo código de cavalaria, que
fazia do guerreiro um paladino da paz e da justiça, em nome de Deus.
Os grandes e
poderosos da época, nobres e eclesiásticos, cultivaram o conforto e o luxo (na
habitação, no vestuário e na mesa) a par do prazer e da diversão.
Praticavam-se
jogos guerreiros (justas*, torneios e caçadas), que mantinham a actividade
física e das armas em tempo de paz, e faziam-se saraus* nos palácios, com
banquetes, bailes, declamação de poesia, sempre acompanhada por música e
representações teatrais.
*Justa
s.f. Combate
entre dois cavaleiros armados de lança. / Duelo, torneio.
*Sarau
s.m. Reunião
festiva, à noite, para dançar, ouvir música e conversar. / Reunião noturna, de
finalidade literária
Nos meios
cortesãos* começaram a gerar-se novas regras sociais, pautadas por uma
apresentação física mais cuidada e pela maior civilidade e cortesia no falar e
no agir.
*Cortesão
adj. e s.m.
Que ou aquele que pertence à corte; palaciano; Adj. Gracioso nas maneiras e
palavras, delicado, elegante. S.m. Aquele que procura agradar com lisonjas e
adulações. / Homem cortês e afável.
Cortesia
s.f.
Maneiras delicadas, urbanidade, civilidade, polidez, afabilidade: receber com
cortesia. / Saudação, cumprimento respeitoso; mesura. // Fazer cortesia com
chapéu alheio, mostrar-se pródigo à custa de outrem.
A Europa das cidades, das catedrais e das universidades (catedral 3)
A partir do
século XII o mundo urbano renasceu na Europa, após séculos de ruralidade.
As cidades
voltaram a dinamizar a vida económica, social e cultural, enfraquecendo o poder
e a importância dos senhores feudais.
A cidade
As cidades medievais (ou burgos) eram sempre
espaços fechados, rodeados por muralhas. As suas portas eram vigiadas por
forças armadas e fechadas durante a noite. A partir do século XII, o
crescimento das populações fez transbordar os velhos burgos que se expandiram
para fora das muralhas.
Na maior
parte das cidades medievais o urbanismo era bastante confuso.
Estava dependente da topografia da zona e da localização de edifícios
importantes como as catedrais, os palácios urbanos ou as sedes das
Corporações.
Estes
edifícios localizavam-se normalmente em torno de grandes espaços livres – as
praças – a partir das quais se rasgavam as ruas onde se situavam as casas
de habitação. Estas ruas, estreitas e tortuosas, iam desembocar nas portas das
muralhas.
As praças
ocupavam um lugar de destaque. Eram os centros da vida quotidiana. Aí se
instalava o pelourinho* (símbolo da autoridade pública), o mercado e também se
realizavam as festas e os actos importantes da vida do burgo.
*pelourinho
s. m. Coluna de pedra, erigida em lugar público, junto à qual se expunham e castigavam os criminosos.
s. m. Coluna de pedra, erigida em lugar público, junto à qual se expunham e castigavam os criminosos.
A cidade era
um mundo barulhento e fétido, pois a maior parte das casas era de madeira e
colmo, sem água canalizada nem saneamento básico. Estas condições tornavam-na
insalubre* e facilitavam a ocorrência de incêndios e outras calamidades*
urbanas.
*Insalubre
adj. Que não
é salubre; doentio, prejudicial à saúde.
*Calamidade
s.f.
Desgraça pública, catástrofe, desastre: a fome, a guerra são calamidades.
Infortúnio que atinge uma pessoa ou um grupo de pessoas.
Infortúnio que atinge uma pessoa ou um grupo de pessoas.
A
Universidade
As cidades
com universidade tornaram-se centros culturais movimentados que atraiam
estudantes das mais variadas paragens.
Entre as
mais importantes universidades gerou-se um intercâmbio de mestres e alunos,
permitindo a circulação de ideias e de saber. Eram frequentadas por alunos
laicos*e eclesiásticos*, embora os professores (mestres) fossem membros do
clero.
*Laico
adj.
Característica do que ou daquele que não faz parte do clero; que não pertence a
instituição ou ordem religiosa: empresa laica; escola laica; Estado Laico.
*Eclesiástico
adj. Que
pertence à Igreja.
S.m. Homem dedicado ao serviço da Igreja.
S.m. Homem dedicado ao serviço da Igreja.
As universidades urbanas acabaram por suplantar
a importância cultural dos mosteiros da época românica. Estas escolas
ministravam um currículo que se iniciava pelo estudo
das Artes
ou Saberes, agrupadas em duas áreas: o trivium, constituído
pela Gramática, Retórica e
Dialética e o quadrivium que englobava a Aritmética,
a Geometria, a Música e a Astronomia.
Gramática
Conjunto de
princípios que regem o funcionamento de uma língua. A gramática orienta como as
palavras podem ser combinadas ou modificadas para que as pessoas possam
comunicar-se com facilidade e precisão.
Retórica
Filosofia.
Arte de bem falar, de valer-se da eloquência ou da argumentação clara
para se comunicar.
Retórica. Reunião de regras relativas à eloquência: a retórica era valorizada ao extremo entre os antigos.
Retórica. Reunião de regras relativas à eloquência: a retórica era valorizada ao extremo entre os antigos.
Dialética
Arte de argumentar
ou discutir.
Maneira de filosofar que procura a verdade por meio de oposição e conciliação de contradições (lógicas ou históricas).
Maneira de filosofar que procura a verdade por meio de oposição e conciliação de contradições (lógicas ou históricas).
Aritmética
Ciência que
estuda as propriedades elementares dos números racionais.
Geometria
Parte da
matemática que tem por objeto o estudo rigoroso do espaço e das formas (figuras
e corpos) que nele se podem conceber.
Música
Arte de
combinar harmoniosamente os sons; combinação de sons a fim de torná-los
harmoniosos e expressivos.
Astronomia
Ciência que
estuda a posição, os movimentos e a constituição dos corpos celestes.
Astronomia matemática, a que trata do cálculo das forças que atuam sobre os astros.
Astronomia física, a que estuda as condições físicas dos astros.
Astronomia matemática, a que trata do cálculo das forças que atuam sobre os astros.
Astronomia física, a que estuda as condições físicas dos astros.
Só após
estas aprendizagens o aluno podia seguir para as faculdades de grau superior
como Direito, Medicina e Teologia.
Direito
Complexo de
leis ou normas que regem as relações entre os homens.
Ciência que estuda essas normas.
Ciência que estuda essas normas.
Medicina
Ciência que
tem como objeto a conservação e o restabelecimento da saúde: estudante de
medicina; doutor em medicina.
Teologia
Estudo da
religião e das coisas divinas. A palavra vem do grego theos, que significa
Deus, e logos, descrição, e refere-se apenas à interpretação da doutrina de
Deus. Mas a teologia moderna abrange o estudo das várias religiões e a relação
entre religião e necessidades humanas.
A
Catedral*
A catedral
foi, nesta época, o símbolo das cidades e o motivo de orgulho dos seus
habitantes que participavam activamente na sua construção.
*Catedral
Igreja principal de um bispado ou arcebispado, onde a autoridade eclesiástica
tem sede.
Os mais
pobres participavam como artesãos ou serventes de vários ofícios, ofereciam a
força do seu trabalho. Os mais ricos (reis, bispos, nobres, mestres das
corporações e grandes mercadores) contribuíam com doações em dinheiro,
ofereciam a sua riqueza.
A catedral
era obra de todos, expressão da comunidade que se revia na sumptuosidade e
beleza do edifício, como se este fosse o reflexo da sua vitalidade.
A catedral
representava o poder político-religioso de reis, bispos e dos senhores das
cidades, os burgueses mais abastados e influentes.
Nesta época
desenvolvem-se e aplicam-se novos métodos construtivos, de acordo com as
intenções dos criadores das catedrais que hoje conhecemos pela designação de estilo
gótico.
Um imenso
espaço interior, elegância e luminosidade: a catedral gótica é a nova casa de
Deus.
Vista
interior da abside da Catedral de Colónia, na Alemanha.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
A Cultura da Catedral (2) A Peste Negra
Peste
negra é a designação pela qual ficou conhecida, durante a Idade Média,
a pandemia* de peste bubónica que assolou
a Europa durante o século XIV e dizimou entre 25 e 75
milhões de pessoas (este número representa um terço da população da época).
*pandemia
(grego pandemía, -as, o povo inteiro)
s. f. Surto de uma doença com distribuição geográfica muito alargada.
(grego pandemía, -as, o povo inteiro)
s. f. Surto de uma doença com distribuição geográfica muito alargada.
Trazida do
Oriente, teve o seu primeiro porto de entrada em Messina, na Itália, através
dos barcos de comércio. O portador da doença terá sido a pulga do rato preto,
originário da Ásia.
As pessoas
infectadas (por picada ou por via oral) manifestavam sintomas invulgares que
começavam por pequenas manchas negras à volta de cada picada de pulga, gânglios
inflamados no pescoço, nas axilas e nas virilhas, febres altas, calafrios e
enjoos.
A progressão
da doença era de tal ordem que, num ou, no máximo, em dois ou três dias, o
doente morria.
Uma das
maiores dificuldades era dar sepultura aos mortos:
"Para
dar sepultura à grande quantidade de corpos já não era suficiente a terra
sagrada junto às Igrejas; por isso passaram-se a edificar igrejas nos
cemitérios; punham-se nessas Igrejas, às centenas, os cadáveres que iam
chegando; e eles eram empilhados como as mercadorias nos navios".
Em Avignon,
na França, vivia Guy de Chauliac, o mais famoso cirurgião dessa época. Ele
sobreviveu à peste e deixou o seguinte relato:
“ A doença
era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai
não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por
completo".
E continua:
“Não se
sabia qual a causa desta grande mortandade. Em alguns lugares pensava-se que
os judeus haviam envenenado o mundo e por isso os mataram”.
“No ano
do Senhor de 1349 (…) Os vivos mal chegavam para enterrar os mortos (…) Mas,
coisa temerosa de ouvir, os cães, os gatos, os galos e as galinhas e todos os
animais domésticos sofriam a mesma sorte. (…) A este mal acrescentou-se outro:
correu o rumor que certos criminosos, particularmente judeus, deitavam nos rios
e nas fontes venenos que faziam engrossar a peste. Por isso, tanto cristãos
como judeus inocentes foram queimados, mortos, quando é certo que tudo aquilo
provinha da constelação ou de vingança divina*.”
Papa Clemente VI, Prima Vita
* Os fracos conhecimentos científicos
não permitiam aos nossos antepassados compreender a origem da doença.
“Digamos
antes de mais que a causa longínqua e primeira deste peste foi e é ainda alguma
constelação celeste (…) a qual conjunção dos astros, com outras conjunções e
eclipses, causa real da corrupção mortífera do ar que nos rodeia, pressagia a
mortalidade e a fome.
Não
podemos deixar de dizer que, quando a epidemia procede da vontade divina, não
temos outro conselho a dar que o de recorrer humildemente a essa vontade, sem
desprezar contudo as prescrições do médico.”
Opinião da
Faculdade de Paris da época
Outras
reacções irracionais foram as manifestações de expiação que se multiplicaram um
pouco por todo o lado.
“Em 1349,
pelo São Miguel, mais de 600 homens vieram da Flandres a Londres (…) onde se
mostravam solenemente duas vezes por dia, vestidos somente da cintura aos
tornozelos (…). Cada um tinha na mão direita um chicote com 3 pontas e, em cada
uma delas, um nó com pregos aguçados. Marchavam em fila e batiam os seus corpos nus e em sangue (…).”
R.
d’Avesbury, Vida de Eduardo III
Os médicos e
os farmacêuticos desconheciam as causas da doença e não sabiam como tratá-la.
Julgavam que se estivessem totalmente vestidos, com luvas, botas e uma máscara,
semelhante à cabeça de uma ave, estariam imunes.
Prevenção
Evitar o
contacto com roedores e erradicá-los das áreas de habitação é a única protecção
eficaz. O vinagre foi utilizado na Idade Média, já que as pulgas e as
ratazanas evitam o seu cheiro.
A peste é de
comunicação obrigatória às autoridades.
Tratamento
Os antibióticos revolucionaram
o tratamento da peste, tornando-a de agente da morte quase certa em doença
facilmente controlável.
sábado, 18 de maio de 2013
A Cultura da Catedral (1) Aspectos gerais
O desenvolvimento
das técnicas e processos agrícolas* permitiram uma produção excedentária o
que levou a um crescimento demográfico com vantagens para as condições de vida
da população.
*afolhamento,
adubagem, alfaias de ferro, moinho de vento e de água, etc
A indústria
e o comércio voltaram a desenvolver-se e deu-se o reaparecimento das feiras
que impulsionaram o crescimento das cidades.
Tudo isto
contribuiu para o aparecimento de uma economia de mercado, onde a
circulação da moeda, a movimentação dos produtos e o poder de compra,
especialmente da elite aristocrática, permitiram o nascimento de uma economia
monetária e capitalista.
É neste
contexto que surgem os cambistas e os bancos privados que, com
várias filiais em diferentes países, recebiam depósitos, faziam empréstimos,
realizavam operações de câmbio (cheques e letras), que facilitavam as trocas
comerciais e evitavam o transporte de moeda.
Esta expansão
capitalista provocou grandes alterações sociais e políticas. A burguesia (os habitantes dos burgos
ou cidades) cresceu, tornou-se mais culta e procurou deliberadamente o lucro e
o enriquecimento.
Os burgueses
uniram-se em organismos profissionais – as corporações ou mesteres de artes
e ofícios para os artesãos e as guildas ou hansas, para os
comerciantes.
Os reis
encontraram na burguesia um
importante aliado. Concederam às suas organizações estatutos jurídicos próprios
em troca do apoio dos burgueses à centralização do seu poder.
A esta
emancipação da burguesia juntou-se a emancipação das próprias cidades que se
libertaram do poder dos senhores feudais.
Apoiando
habilmente a luta da burguesia contra a aristocracia, a pessoa do rei aliou-se
à igreja e impôs o seu papel de herdeiro e representante de Deus na Terra,
de garante da paz pública, de centralizador do poder político e administrativo
e de juiz - foi o despertar da realeza.
As
sociedades europeias da época organizaram-se sob diferentes regimes políticos: monarquias hereditárias (reinos de
Portugal, Leão, Castela, França, Inglaterra…), estados teocráticos (Sacro Império Romano-Germânico, Estado Papal),
principados e repúblicas governados
por elites aristocráticas ou burguesas na Itália e as cidades-Estado do norte da Alemanha e da Holanda.
Mas o
crescimento da Europa medieval conheceu períodos de grandes dificuldades.
Vários factores contribuíram para uma séria recessão económica em meados do
século XIV (alteração dos preços dos cereais, crescimento urbano desequilibrado
e consequentes fomes).
Mas foi a Peste
Negra, trazida do Oriente, que provocou a maior quebra demográfica pois
matou entre um terço a metade da população europeia. Provocou o pânico que, a
par das guerras e da desorganização produtiva esteve na base de inúmeras
revoltas populares.
A Europa só
viria a recuperar desta depressão no início do século XV devido ao maior
dinamismo produtivo da Itália e da Flandres e, posteriormente, à abertura
marítimo-comercial feita por portugueses e espanhóis.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
10º F - A Cultura do Mosteiro – Ficha de Trabalho
Lê
atentamente os textos deste Blogue marcados com a etiqueta 10f cultura do mosteiro.
Responde às
questões a seguir colocadas numa folha A4. As tuas respostas devem ser
manuscritas. A ficha deverá ser entregue na próxima 2ª feira dia 13 de Maio.
No ano de 476 d.C o Império Romano do
Ocidente chegou ao fim com o saque de Roma.
O embate entre o mundo romano em declínio e
o mundo bárbaro, em ascensão, alterou por completo o panorama da Europa nessa
época.
1.Quais foram as principais consequências
da desagregação do Império Romano do Ocidente em termos económicos e sociais?
2.Qual a designação do sistema de
organização política e social que vigorou na Europa ao Longo da Idade
Média?
3.Quais as classes sociais que então se
estabeleceram?
4.Explica por palavras tuas o que
entendes por “cristandade”.
O mundo romano tinha sido alfabetizado, com
escolas e bibliotecas públicas em todas as cidades. As ideias circulavam
facilmente entre o Ocidente e o Oriente.
Com as invasões bárbaras muitas cidades
foram pilhadas, devastadas e incendiadas, perdendo-se, entre outras coisas, as
suas escolas e bibliotecas.
5.Como consequência dos factos acima
registados qual foi o papel do clero
na preservação do conhecimento?
A arte
românica é considerada como o primeiro estilo internacional da Idade
Média.
6.Explica o que entendes por estilo.
Essas poderosas e desafiadoras montanhas de
pedra erguidas pela Igreja em terras de camponeses e guerreiros recentemente
convertidos do seu modo de vida pagão parecem expressar a própria ideia da
Igreja militante – isto é, a ideia de que aqui, na Terra, é tarefa de Igreja
combater as forças das trevas até que soe a hora do triunfo, no dia do Juízo
Final.
7.O texto refere-se às igrejas e
catedrais românicas. Enumera as
principais características dessas construções.
Foi em França que as igrejas românicas
começaram a ser decoradas com esculturas embora a palavra “decorar” nos possa
induzir em erro.
8.Qual a razão que leva o autor do texto a
afirmar que a palavra “decorar” nos pode induzir em erro quando nos
referimos à escultura (nomeadamente ao relevo) utilizada nas igrejas românicas?
A pintura
mural do período românico exerceu uma função semelhante à do relevo.
9.Que função semelhante à do relevo foi
exercida pela pintura mural?
A pintura
sobre os livros sagrados (iluminuras) foram outra importante forma de
expressão desenvolvida ao longo de toda a Idade Média.
10.Explica qual a razão que te parece
justificar o facto de as figuras humanas representadas na arte românica serem
tão toscas e desproporcionadas.
domingo, 5 de maio de 2013
Românico - As Artes da Cor (A Cultura do Mosteiro-8)
A pintura
mural do período românico exerceu uma função semelhante à do relevo no seu
carácter doutrinal e pedagógico.
Estas
pinturas revestiam os interiores, das absides aos pórticos de entrada.
A pintura e
a escultura contribuíam para reforçar o ambiente místico que se pretendia
atribuir à Casa de Deus, criando dentro das igrejas um espaço de encantamento e
surpresa.
Comparativamente
à escultura são poucos os exemplos que hoje restam da pintura mural românica
devido à degradação provocada pelo tempo.
No caso da
pintura prevalece a temática religiosa com representações de cenas dos
evangelhos e das vidas dos santos. A falta de naturalismo do desenho anatómico
não retira expressividade a estas pinturas apesar de, aos nossos olhos, poderem
parecer algo ingénuas.
A
iconografia do Cristo em Majestade cobria a superfície da abside do altar-mor em
muitas igrejas. A Sua figura dominava o
espaço centralizando a atenção dos fiéis durante a liturgia.
Cristo era
juiz e imperador, detentor de todo o poder e sabedoria.
A pintura
sobre os livros sagrados (iluminuras)
foram outra importante forma de expressão desenvolvida ao longo de toda a Idade
Média.
Estes livros
eram produzidos nos scriptoria dos mosteiros por monges
especializados. Eram produtos raros e preciosos, destinados a uma restrita
clientela de eruditos. Daí que as iluminuras tenham um carácter
narrativo menos popular e imediatista que as outras formas de expressão atrás
abordadas.
Estas
pinturas podiam ocupar páginas inteiras com ilustrações dos textos que
acompanhavam ou reduzir-se à decoração de letras iniciais dos capítulos ou
parágrafos (capitulares).
As técnicas
utilizadas denotam uma extraordinária destreza na execução e uma imaginação sem
limites traduzida na variedade de temas, na fantasia das formas e na riqueza do
colorido.
A pintura
estava a caminho de se converter numa forma de escrita por imagens.
Esse recurso
a métodos mais simplificados de representação deu ao artista da Idade Média
grande liberdade para experimentar novos métodos de composição visual.
Sem esses
métodos os ensinamentos da igreja nunca poderiam ter sido traduzidos em formas
visíveis.
Nos séculos
seguintes este tipo de representação iria conhecer novos desenvolvimentos.
Escultura Românica (A Cultura do Mosteiro-7)
Foi em França que as igrejas românicas começaram a ser decoradas com esculturas embora a palavra “decorar” nos possa induzir em erro.
Tudo o que pertencia à igreja tinha uma função definida e expressava
uma ideia precisa relacionada com os ensinamentos da religião. O relevo foi
muito usado, frequentemente relacionado com a pintura, ambos totalmente
submetidos à arquitectura.
O principal objectivo da escultura era o de passar uma
mensagem com funções narrativas e pedagógicas para ensinar os ignorantes
que não podiam ler.
O aspecto tosco e rude dos relevos românicos revela uma nova
forma de expressão que valoriza a mensagem em detrimento da técnica.
A figura humana era tratada com pouco realismo anatómico em
cenas sem profundidade cuja composição se relacionava com o espaço
arquitectónico que lhe servia de suporte. As figuras “encaixavam-se” uma nas
outras e o conjunto adaptava-se ao suporte.
Os temas eram essencialmente religiosos mas também há muitos
exemplos de representações de cenas do quotidiano ou de estranhos monstros.
Originalmente os relevos no interior das igrejas eram
pintados.
Trata-se de uma arte extraordinariamente inventiva e
movimentada, repleta de significado.
O relevo românico tinha uma função específica (relatar
histórias) que cumpria com grande eficácia.
Na estatuária (imagens de vulto redondo) mantêm-se as
principais caraterísticas verificadas no relevo. Destaca-se o tema da Virgem
com o Menino.
Eram objectos de veneração concretizados em composições
simples e esquemáticas.
Concebidas em função de um plano mural onde, normalmente,
estavam encostadas, eram trabalhadas, principalmente, a frente e os lados da
imagem.
A Virgem representa O Trono de Deus.
sábado, 4 de maio de 2013
O Românico - A Igreja (A Cultura do Mosteiro-6)
Nos dias de hoje não é fácil imaginar o que uma igreja
significava para as pessoas na Idade Média. A igreja era, geralmente, o único
edifício em pedra nas redondezas e o seu campanário um ponto de referência para
todos os que vinham de longe.
Aos domingos, durante o culto, todos os habitantes da cidade
aí se encontravam e o contraste entre o edifício grandioso e as casas primitiva
e humildes em essas pessoas passavam a vida devia ser esmagador.
Não admira que toda a comunidade estivesse interessada na
construção dessas igrejas e se orgulhasse da sua decoração. Mesmo do ponto de
vista económico, a construção de um mosteiro, que levava anos, deveria
transformar uma cidade inteira.
A extracção da pedra e o seu transporte, a erecção de
andaimes adequados, o emprego de artífices itinerantes que traziam histórias de
outras terras, tudo isso constituía um acontecimento importante nesses tempos
remotos.
A Idade das Trevas não apagara por completo a lembrança das
primeiras igrejas, construídas de acordo com as basílicas romanas. O plano
fundamental era geralmente o mesmo: uma nave central que levava a uma abside
ou coro e duas ou quatro naves colaterais.
Alguns arquitectos gostavam da ideia de construir igrejas em
forma de cruz e acrescentavam uma galeria transversal entre o coro e a nave à
qual se deu o nome de transepto.
Nas igrejas românicas encontramos geralmente arcos de volta
inteira assentes em maciços pés-direitos. A impressão causada por essas
igrejas, interna e externamente, é de grande robustez.
Poucas decorações, poucas aberturas, paredes e torres
inteiriças que nos fazem lembrar fortalezas medievais.
Essas poderosas e desafiadoras montanhas de pedra erguidas
pela Igreja em terras de camponeses e guerreiros recentemente convertidos do
seu modo de vida pagão parecem expressar a própria ideia da Igreja militante –
isto é, a ideia de que aqui, na Terra, é tarefa de Igreja combater as forças
das trevas até que soe a hora do triunfo, no dia do Juízo Final.
Havia um difícil problema relacionado com a construção das
igrejas que levou muito tempo a resolver: a tarefa de dar a esses
impressionantes edifícios um apropriado e fiável telhado de pedra.
A arte romana de abobadar grandes edifícios exigia uma
considerável soma de conhecimentos e cálculos de natureza técnica que, na sua
maior parte, se tinham perdido.
Assim, os séculos XI e XII tornaram-se um período incessante
de experiências.
A solução encontrada consistia em cobrir a nave principal
com uma abóbada de berço.
A pressão contínua exercida pela abóbada é descarregada
através de arcos para pilares e colunas que dividem as naves no interior da
igreja e transmitida para as naves laterais.
Finalmente, a pressão exercida pelas abóbadas laterais é
transmitida para as paredes exteriores do edifício reforçado pelas paredes
grossas, com poucas aberturas, e por contrafortes situados exteriormente no
mesmo alinhamento dos pilares.
Texto transcrito de "A História da Arte da Arte" de E. H. Gombrich
domingo, 28 de abril de 2013
Proposta de trabalho 7 - pintura a acrílico
Proposta de trabalho de aula
7 textos são colocados à tua disposição.
São excertos de 7 romances ou contos de autores portugueses
ou de outras nacionalidades.
Deves seleccionar um desses excertos ou, em alternativa,
deves escolher um excerto de outra obra e trazê-lo na próxima aula no dia 6 de
Maio.
O trabalho consiste em fazer uma ilustração desse texto
recorrendo à técnica de pintura a acrílico.
Na aula de 6 de Maio deves também apresentar um esboço a
grafite sobre papel (formato A4 ou A3) da imagem que irás produzir como
resposta a esta proposta de trabalho.
Materiais necessários
Suporte – dadas as características das tintas
acrílicas podes optar por diferentes tipos de suporte para a tua pintura: papel
(o papel tipo cavalinho é desaconselhado), tela (podes reutilizar uma
tela cobrindo-a com tinta plástica branca fornecida pela escola) madeira,
contraplacado ou MDF.
A dimensão mínima do suporte será o tamanho A2 (42X59 cm
aproximadamente).
Esta dimensão pode ser “negociada”.
Tintas acrílicas - deves ter à disposição, no mínimo,
as cores primárias mais preto e branco.
Pincéis – deves ter à disposição pincéis de
diferentes espessuras. Quantos mais pincéis tiveres melhor.
Recipientes para água (vidro ou plástico), paleta
(madeira, plástico ou outro) e trapos para limpeza de pincéis.
Proposta de trabalho de casa
Ilustração de textos
Recorrendo à utilização da cor, executa duas ilustrações de
textos escolhidos entre os 7 propostos pelo professor ou outros, da tua
escolha.
Caso optes por ilustrar um texto escolhido por ti deves
entregá-lo juntamente com a ilustração.
Podes optar por um suporte de tamanho A4 ou A3 – tem em
atenção questões relacionadas com a composição espacial bem como com a
composição cromática.
Materiais a utilizar: lápis de cor, pastel de
óleo e aguarela.
1ª ilustração
Deves seleccionar um conjunto de cores frias.
2ª ilustração
Deves seleccionar um conjunto de cores quentes.
Em ambos os casos podes juntar preto e branco às cores
seleccionadas.
1º entrega 13 de Maio
2º entrega 27 de Maio
1.
Entretanto, os cavalos tinham alcançado os penedos
em que se situava o castelo, e a portuguesa, depois de ter ouvido tudo, afirmou
uma vez mais que queria ficar. O castelo erguia-se com seu ar de fortaleza
austera. Aqui e ali, pequenas árvores retorcidas emergiam entre as rochas como
cabelos esparsos. A floresta montanhosa estendia-se com tal fealdade que não
seria possível descrevê-la a quem só conhecia as ondas do mar. O ar era forte e
frio, e era como se se penetrasse numa cratera onde brilhasse uma luz verde.
E nas florestas havia veados, ursos, javalis, lobos
e, quem sabe, unicórnios. Lá no cimo viviam os cabritos monteses e as águias.
Cavernas ignoradas dariam guarida ao dragão. A floresta tinha uma profundeza de
semanas a fio, atravessada apenas por veredas selvagens, e, nas serranias que
se elevavam depois, era o reino dos espíritos. Ali viviam os demónios
juntamente com as tempestades e as nuvens.
Robert Musil, Três Mulheres, ed. Livros do
Brasil, 2011, pág. 51
2.
Um homem dos seus quarenta anos avançou porta
dentro trazendo atrás de si algo e alguém. O alguém, facilmente se percebeu,
era um rapazito que empurrava num carrinho de mão um objecto – uma máquina, percebeu-se depois. Com umas
moedas o rapazito desapareceu. O homem, esse, chamava-se Glasser e do seu peito
saía um fio eléctrico que o ligava a uma enorme bateria, de mais de vinte
quilos. Era uma bateria de camião.
- É o meu coração
artificial – explicou Glasser. – Já fazem mais pequenos mas este funciona.
Gonçalo M. Tavares, Matteo Perdeu o Emprego,
ed. Porto Editora, 2010, pág. 53
3.
Abandonei o local e prossegui o caminho. A trovoada
redobrava de intensidade e o trovão rebentou por cima de mim num estrondo
terrível cujo eco se repercutiu do Saléve ao Jura e aos Alpes da Sabóia.
Relâmpagos que me cegavam, iluminavam o lago, dando-lhe a aparência de uma
imensa planície de fogo e depois, durante um momento, tudo parecia submerso
numa obscuridade completa, a tal ponto os olhos se achavam ofuscados pela luz
violenta.
Enquanto
contemplava esta tempestade magnífica e terrível, ia avançando a passos
rápidos. A batalha no céu arrebatava-me a alma. Pus as mãos e gritei:
- William! Meu
anjo! É o teu funeral, são os teus cantos fúnebres?
Ao dizer estas
palavras, distingui na obscuridade uma silhueta a sair furtivamente de um grupo
de árvores, não longe de mim. Fiquei imóvel, fixando-a intensamente. Não podia
enganar-me. Um relâmpago iluminou-a, e vi distintamente a estatura gigantesca,
o corpo disforme e hediondo do miserável demónio a quem dera vida.
Mary Shelley, Frankenstein, ed. Círculo de
Leitores, 1976, pág. 56-57
4.
Nas aulas os olhos enchiam-se-lhe de lágrimas e
revolta sempre que o amigo, de boca aberta e giz a pender dos dedos, em frente
ao quadro de ardósia, se mostrava incapaz de distinguir o numerador do
denominador, de identificar o complemento direto e, ainda menos, o indireto, de
entender a racionalidade de um número, de aplicar as propriedades das operações
aritméticas, de escrever a data em francês.
Mas nada fazia
perder a fé inabalável que Duarte depositava no amigo. A certeza de que um
futuro glorioso lhe estaria reservado. E o privilégio que sentia em ser seu
colega de carteira enchia-lhe o peito de orgulho e gratidão. É que Duarte
estava absolutamente convencido de que o Índio era um génio.
Perante a pobreza em que o Índio vivia, Duarte
comportava-se como um verdadeiro mecenas. Com o dinheiro que amealhava em
Natais e aniversários, comprava-lhe blocos de papel e lápis de várias marcas e
durezas: primeiro os Viarco, depois
os Faber-Castell, depois os Staedler, por fim os Caran d’Ache.
João Ricardo Pedro, O Teu Rosto Será o Último, ed. Leya,
2012, pág. 78-79
5.
Há uns seis anos
– tinha eu voltado de uma viagem e já estava aborrecido com o ócio e a rotina
simples da vida doméstica, mas não aborrecido a ponto de planear uma nova
expedição – fui uma noite, já tarde, interrompido na minha escrita diária por
um visitante inesperado.
Era um fulano
ruivo, na primavera da vida, que tinha um estrabismo tão terrível que era
difícil olhar directamente para a cara dele; para complicar as coisas ele tinha
um olho verde e outro castanho. Na sua expressão a sua cara parecia combinar
duas pessoas; uma, tímida e nervosa, a outra – a dominante – arrogante e
agudamente cínica. Uma mistura espantosa, pois umas vezes ele olhava para mim
com o olho castanho, imóvel e arregalado, e outras vezes com o verde que era
comicamente revirado para cima.
- Senhor Tichy –
disse ele logo que entrou no meu gabinete – muitos trapaceiros, impostores e
malucos devem importuná-lo, tentar burlá-lo ou cair-lhe em cima. Não é um
facto?
- Acontece –
repliquei. – Então, o que é eu posso fazer por si?
Stanislaw Lem, Viagens de Ijon Tichy, ed. Caminho, 1987, pág.
40-41
6.
O Dragão possui a capacidade de assumir muitas
formas, mas estas são inescrutáveis. Em geral, imaginam-no com cabeça de
cavalo, cauda de serpente, grandes asas laterais e quatro garras, cada uma
provida de quatro unhas. Fala-se mesmo das suas nove semelhanças; os cornos
assemelham-se aos de um cervo, a cabeça à do camelo, os olhos aos de um
demónio, o pescoço ao da serpente, o ventre ao de um molusco, as escamas às de
um peixe, as garras às da águia, as plantas dos pés às do tigre e as orelhas às
do boi. É habitual representá-lo com uma pérola, que lhe pende do pescoço e é o
emblema do Sol. O seu poder está nessa pérola. É inofensivo se lha tiram.
Jorge Luís Borges, O Livro dos Seres
Imaginários, ed. Teorema, 2009, pág. 65
7.
O frio tem mil formas e mil modos de andar no
mundo: no mar corre como uma manada de cavalos, nos campos lança-se como uma
praga de gafanhotos, enquanto nas cidades como lâmina de faca vai cortando
as ruas infiltrando-se pelas gretas das casas sem aquecimento. Em casa de
Marcovaldo naquela noite tinham acabado os últimos bocados de lenha, e a família,
toda encapotada, via na salamandra empalidecerem as últimas brasas, e sair das
suas bocas uma nuvem a cada respiro. Já não diziam nada; as nuvens é que
falavam por eles: a mulher soltava-as longas como suspiros, os filhos
sopravam-na absortos como se fossem bolas de sabão, e Marcovaldo lançava-as
para o ar aos repelões como ideias luminosas que logo se desvanecem.
Italo Calvino, Marcovaldo, ed. Teorema,
1994, pág. 51
Subscrever:
Mensagens (Atom)