domingo, 15 de junho de 2008

Casos Práticos 3- DQ. DON QUIJOTE


Como designar os espectáculos do grupo catalão La Fura dels Baus? A dificuldade em catalogar o género artístico da produção do grupo levou ao surgimento da palavra "furera" para significar a linguagem expressiva desenvolvida pelos Fura dels Baus.

O Caso Prático 3, apresentado nas páginas 24, 25 e 26 da 1ª Parte do manual de História da Cultura e das Artes, é um dos muitos espectáculos produzidos pelos Fura dels Baus, DQ. DON QUIJOTE.

As características específicas do trabalho dos Fura é, mais ou menos, comum a todas as suas produções. Mistura de diferentes técnicas de comunicação (música, teatro, cinema, vídeo, dança, sei lá que mais!) combinadas num objecto cénico único. Procurando uma linguagem universal (o sonho de qualquer artista), os Fura preferem apostar na combinação de som e imagem em movimento, reduzindo frequentemente o texto ao mínimo (quando não o suprimem totalmente). Os seus espectáculos costumam ser chocantes e violentos, colocando a expressividade do gesto e do corpo humano em plano de grande destaque.


Este vídeo diz respeito a um outro espectáculo dos Fura dels Baus, Imperium. É uma nota de reportagem falada em catalão e espanhol mas penso que se compreende perfeitamente aquilo que é dito. Repara na forma como o público é trazido para o interior do objecto artístico e, como diz o entrevistado, é levado a VIVER a acção.
Todas estas características conferem ao trabalho dos Fura dels Baus uma série de qualidades que associamos ao objecto de arte contemporâneo: fusão de linguagens e "camadas" diferentes sobre um único suporte, variedade de leituras possíveis e implicação directa do espectador na criação final do objecto artístico.

sábado, 14 de junho de 2008

O Século Prodigioso

Marlene Dumas, Black Drawings, 1991-92
Ink wash, watercolor on paper slate25 x 17,5 cm each


Recomendo-te uma visitinha a este blogue http://oseculoprodigioso.blogspot.com/. É um óptimo local para exercitares aquela tal "alimentação" de imagens que tantas vezes te propus ao longo do ano. Tem um "menu" variado e bem recheado. Pouco texto, muita imagem, imensa informação visual. Não te faças esquisito(a) e vai lá "comer" qualquer coisinha. Atenção às etiquetas alinhadas à direita, é aí que encontras todos os "pratos" à disposição. A visitar, mesmo que não tenhas fome.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Casos Práticos 1- Dolly (Three Tales)

Ovelha Dolly empalhada


A vídeo-ópera Three Tales (Três Contos) de Steve Reich (música) e da sua esposa Beryl Korot (vídeo) estreou em Maio de 2002 no Vienna Music Festival e é composta por 3 actos (ver manual do 12º ano, parte 1, página 18):


Acto I – Hildenburg

Não Pode Ter Sido Uma questão Técnica-- Zeppelin Nibelungo -- Uma Coisa Impressionante Para o Olhar-- Eu Não Podia Compreendê-lo


Acto II – Bikini
No Ar I -- O Atol I -- Nos Navios I -- No Ar II -- O Atol II -- Nos Navios II -- No Ar III -- O Atol III -- Nos Navios III -- Coda


Acto III – Dolly
Clonagem -- Dolly -- Máquina Corpo Humano-- Darwin -- Interlúdio -- Robots/Cyborgs/Imortalidade


é sobre este 3º conto que se debruça o nosso programa de História.



Um enorme écrã está suspenso no centro de cena.
Dez músicos, três contra-tenores e dois sopranos.
Todos os cantores estão vestidos com brilhantes fatos movendo-se no palco como robôs.

Three Tales reflecte sobre os avanços científicos e tecnológicos e sobre alguns momentos potencialmente perigosos do século XX focando específicamente 3 acontecimentos-chave seleccionados para esta narrativa: a queda do zeppelin de Hindenburg em Lakehurst, New Jersey em 1937; as experiências com a bomba de hidrogénio no Atol de Bikini em 1947 (de onde foram deslocados os seus 167 habitantes e que permanece, até aos dias de hoje, inabitável); e a clonagem da ovelha Dolly, marcando o início da "era do genoma".

Trata-se de um espectáculo que reúne e sobrepõe diferentes formas de expressão artística. Música, vídeo, ópera, um exemplo completo e complexo de uma linguagem artística contemporânea (interpenetração dinâmica de diferentes linguagens) na forma e no conteúdo (reflexão poético-científica sobre a contemporaneidade).

Em Dolly há um conjunto de 18 cientistas das mais variadas áreas e um robô chamado Kismet. Os cientistas tornam-se actores a partir da manipulação visual e áudio que Reich e Korot elaboram tendo como base de trabalho um extenso conjunto de declarações gravadas (ver excerto do libreto da 3ª cena de Dolly na página 19 do manual).

Deste modo criam uma peça de teatro musical inesperada na qual nos é fornecida informação sobre os mais avançados princípios da engenharia genética actual. O resultado é um conjunto de opiniões norteadas pela ética e sem sombra de religiosidade, sobre a possibilidade de um futuro desumanizado, criado pelas máquinas que inventamos.

"We, and all other animals are machines created by our genes."

Finalmente recomendo que explores este sítio onde encontras vários vídeos sobre a obra de Steve Reich.

sábado, 7 de junho de 2008

Um texto curioso e interessante (outros se seguirão)

Prensa de Gutenberg


O texto que se segue foi transcrito de "Uma História da Propaganda", de Oliver Thomson, editado em 1999. 1ª edição portuguesa da Temas & Debates em Outubro de 2000.
A Reforma
A Reforma assume particular relevo na história da propaganda devido a uma especial coincidência: o primeiro grande desenvolvimento europeu da imprensa com tipos móveis teve lugar ao mesmo tempo que um longo período de inquietação no interior da Igreja Católica atingia o auge. Um propagandista de notável talento, Martinho Lutero, e uma série de outros de grande qualidade, como Calvino e Loyola surgiram então. De acordo com a descrição de G. Dickens, este foi «o primeiro movimento de massas de mudança religiosa apoiado por uma nova tecnologia». A invenção da imprensa foi, nas palavras de Lutero, «o mais extremo acto da graça de Deus».
(...)
A Reforma e a indústria da imprensa promoveram-se mutuamente, já que o movimento fornecia textos que eram potenciais best-sellers, o que lhe permitia auxiliar imensamente a indústria nascente com os resultantes fluxos financeiros, enquanto os tipógrafos proporcionavam aos reformadores um meio de comunicação mais eficaz do que qualquer outro dos até então disponíveis. Pelo menos metade de todos os livros publicados por esta altura foram religiosos e o número de títulos produzidos na Alemanha passou de 90, em 1513, para 944, em 1523; a propaganda era um negócio rentável.

É notável a forma como a imprensa e Reforma protestante se tornam aliadas e se completam em objectivos e necessidades. Em última análise são um exemplo de empreendimento de sucesso comercial, um daqueles sucessos que estão na base do surgimento e desenvolvimento de uma sociedade comercial e mercantil. Religião e Literatura são duas actividades complementares que, uma vez conjugadas, se tornam autênticas máquinas de produzir dinheiro.


Nota: clica nos nomes a laranja para informação complementar. Vá lá, não tenhas receio de alargar a tua cultura geral. Vais ver que não dói tanto quanto isso.