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terça-feira, 18 de abril de 2023

O que é a arte? (cuidado com as perguntas que fazes :)

   


 
"Ao expor ready-mades - sendo o secador de garrafas de Marcel Duchamp o mais célebre -, Dada pretendia proclamar que não existe diferença entre as «obras» de arte e os objectos da vida de todos os dias. Os escritos de Picabia que procuram dar conta da realidade mais terra-a-terra traduzem a mesma intenção:

O cão deixou a casa, mas os meus pais estão doentes.
O piano está desafinado, mas o meu tio perdeu o lenço. 
A baixela está terminada, mas já não há compota.
O peixe está fresco, mas a minha tia tem dores no olho. 
 
    A arte dessacralizada participa, pois,  da vida quotidiana ao mesmo tempo que se alimenta dela. Marcel Janco relata o seguinte: «Encontrar um simples calhau tornava-se uma aventura. Descobrir o mecanismo de um relógio, encontrar um pequeno bilhete de carro-eléctrico, uma bela perna, um insecto, ou explorar um canto do quarto, tudo isso podia mobilizar sensações puras e directas. Ao adaptar assim a a arte à vida quotidiana e às experiências extraordinárias, submetemo-la aos mesmos riscos, às leis do imprevisível, ao acaso, ao jogo das forças vitais. A arte já não é uma emoção (séria e importante), nem uma tragédia sentimental, antes simplesmente o resultado da experiência vivida e da alegria de viver». 
    A arte vê-se assim conduzida ao nível do quotidiano para testemunhar que é aí que reside a urgência, que é preciso agir sobre ele para dele fazer a única obra de arte. A arte torna-se (...) tarefa de toda a gente."

in Dada, História de uma subversão, de Henri Béhar e Michel Carassou, ed. Antígona, tradução de José Miranda Justo, 1º edição Novembro de 2015, página 102

quarta-feira, 17 de maio de 2017

A Cultura do Espaço Virtual (7) - Arte Conceptual

Jenny Holzer

A Arte Conceptual é a mais radical e controversa proposta da Arte Contemporânea.

A Arte Conceptual baseia-se no princípio de que a essência da Arte é uma ideia (um conceito).

Alguns artistas, críticos de arte, historiadores e largas camadas do público não encaram as obras conceptuais como sendo obras de arte.

Alguns artistas conceptuais acreditam que a arte é criada pelo observador e não pelo artista e que o objecto é apenas um pretexto para que a arte aconteça no íntimo de cada um de nós.

Assim, ideias e conceitos são a principal matéria-prima das obras conceptuais.


De modo a enfatizar o carácter conceptual da obra de arte, os conceptualistas tendem a reduzir ao mínimo a presença física do objecto (desmaterialização do objecto artístico).


segunda-feira, 15 de maio de 2017

A Cultura do Espaço Virtual (6) - A Arte como Acontecimento

Novas Vanguardas

Após a 2.ª guerra mundial surge uma nova vaga de movimentos artísticos designados por “vanguardistas”. Uma figura importante neste contexto foi o compositor musical John Cage (1912-92).
Merce Cunningham

A parceria que Cage estabeleceu com o bailarino e coreógrafo Merce Cunningham (1919-2009) estará na origem da primeiras manifestações da “arte como acontecimento”.
As acções por eles criadas caracterizavam-se por não estabelecer uma relação evidente entre o bailarino e o trecho musical. Eles partilhavam o mesmo espaço-tempo mas apenas se harmonizavam em determinados momentos, aparentemente fruto do acaso.

Não há uma história nem psicologia… apenas arte.

Outra personagem importante neste contexto foi Jackson Pollock (1912-56) o criador da designada Action Painting. A técnica do dripping coloca questões novas que irão transformar toda a reflexão sobre a acção de pintar.

Happening ((e Performance) (e Body Art))
Esta forma de expressão artística (o happening) não tem definição nem regras específicas.
Não é uma representação teatral pois não tem obrigatoriamente uma estrutura com princípio, meio e fim.

O happening coloca o espectador e o autor numa atitude expectante e atenta a determinados factos, acontecimentos ou vivências que o constituem.
Como o Happening é vivido de uma só vez, nascendo e desaparecendo no acto de fazer, constitui a mais pura expressão de arte efémera.



Depósito, happening de Allan Kaprow de 1961.
Nesta obra, o autor amontoou uma enorme quantidade de pneus num espaço fechado. O público podia circular livremente ou ficar apenas a observar.

A performance é algo muito semelhante ao happening. Talvez possamos afirmar que a performance tem por base a expressão corporal, algures entre a dança e o teatro e que reflecte sobre diferentes formas de actividade humana.
Mas, na verdade, é muito difícil marcar uma fronteira entre happening e performance.


Também a Body Art se caracteriza por acções de curta duração e poderia perfeitamente ser considerado num único campo, juntamente com aquilo que designamos de Happening e Performance.


A sensação de estranheza interpela o observador que pode ou não participar activamente nos acontecimentos que se desenrolam à sua frente.
A ausência de uma narrativa evidente torna a comunicação aberta.

Olivier de Sagazan em Transfiguration

Algumas características comuns dos objectos de Arte Contemporânea:
  • ·         Hibridização (o objecto organiza-se reunindo e suportando em simultâneo diferentes linguagens artísticas, temáticas e técnicas)
  • ·         Originalidade (o autor do objecto procura descobrir uma forma nova de comunicar com o espectador)
  • ·         Narrativa Não-óbvia (o resultado narrativo quase nunca é óbvio convocando o espectador para que este complete o sentido do objecto que observa)


segunda-feira, 8 de maio de 2017

A Cultura do Espaço Virtual (5) - A arte como reflexo (Arte Pop)


A arte do século XX, a partir dos anos 60, muda de forma radical quer na forma quer no pensamento.

É uma arte virada para a vida quotidiana que utiliza o dia-a-dia como fonte de conhecimento e motor para a acção.

A Arte introduz o discurso da banalidade.

Numa sociedade marcada pelo consumo, onde a publicidade ganha cada vez mais espaço (nos meios de comunicação social e nas ruas das cidades), a arte apropria-se de imagens, figuras e objectos que até então não faziam parte do seu universo.

A Arte Pop (abreviatura de “popular”) utilizou uma linguagem figurativa de símbolos, figuras e objectos característicos da cidade e do seu quotidiano.

A temática Pop estava ligada à “cultura popular” e tinha por base imagens retiradas da Banda Desenhada, das revistas e dos jornais, da televisão e do cinema.

Os artistas “pop” utilizaram as técnicas criativas introduzidas pelo movimento Dadaísta aproveitando o desenvolvimento tecnológico para produzirem formas plásticas pouco comuns.

A Arte Pop é o marco de passagem da modernidade para a pós-modernidade na cultura ocidental.

As formas artísticas mais conservadoras e académicas serão postas em causa através de propostas cada vez mais radicais e chocantes. A inovação e a originalidade passam a ser valores determinantes na classificação dos objectos artísticos contemporâneos.


Os objectos artísticos confundem-se com a vida quotidiana. Os meios de comunicação de massas atribuem a objectos de consumo características que, até então, eram exclusivos da obra de arte.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A Cultura do Espaço Virtual (4) - Anos 60

A partir dos anos 60 aconteceram profundas alterações nos modos de produção artística do século XX como reflexo de fenómenos sociais que marcaram um novo tempo de contestação à ordem instituída e afirmação de novos valores.

Alguns filósofos e historiadores afirmaram que a revolta de Maio de 68 foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, por ter sido uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe.

O movimento hippie foi um comportamento coletivo de contracultura dos anos 60. Uma das frases associadas a este movimento foi a célebre máxima "paz e amor" ("peace and love) e esteve na base da contestação à guerra no Vietname. As questões ambientais, a prática de nudismo e a emancipação sexual eram ideias respeitadas recorrentemente por estas comunidades.

Surgiram os movimentos de libertação da mulher que puseram em causa os papéis tradicionalmente atribuídos ao sexo feminino.

Estes movimentos fizeram ouvir a voz da juventude que desafiava a ordem instituída de forma irreverente e propunha novas formas de encarar a sociedade.

Dado o seu carácter reivindicativo e de contestação perante a ordem estabelecida, este fenómeno é designado por contracultura*.
*Contracultura - conjunto de ideias e comportamentos que se opõem ou se diferenciam das instituições e dos valores dominantes de uma sociedade

A publicidade afirmou-se como um sistema de comunicação global dominando as subculturas ditas marginais, colocando-as no centro da indústria consumista dirigida às camadas mais jovens.

O mundo continuava a transformar-se.

quarta-feira, 29 de março de 2017

A Cultura do Espaço Virtual (3) Globalização

O termo Globalização, tal como o aplicamos hoje, começou por designar a organização de estratégias de produção e de consumo à escala mundial, estabelecidas pelas grandes potências económicas.
O conceito tem vindo a alargar-se a outras áreas (ambientais, ecológicas, sociais, culturais…). Globalização passou a designar o estreitamento das relações internacionais à escala mundial.

O fenómeno da globalização está ligado ao ritmo do desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação.

Muitos historiadores afirmam que este processo teve início nos séculos XV e XVI com as Grandes Navegações e Descobertas Marítimas. Neste contexto histórico, o homem europeu entrou em contacto com povos de outros continentes, estabelecendo relações comerciais e culturais.

Porém, a globalização desenvolveu-se de forma espantosa no final do século XX, logo após a queda da União Soviética e do bloco comunista que marcou o fim da Guerra Fria. A expansão das rotas de aviação comercial conheceu um desenvolvimento absolutamente espantoso.
Sem a oposição do bloco comunista, o neoliberalismo impulsionou o processo de globalização económica. O Espaço Virtual é a ferramenta fundamental para o sucesso desta revolução.

A primeira revolução industrial começou no século XVIII. Resultou do desenvolvimento da produção mecânica através da máquina a vapor e da revolução dos transportes ferroviários. 

A segunda revolução industrial ocorreu nas primeiras décadas do século XX e trouxe a produção em massa através de linhas de montagem e a electrificação.
O transporte rodoviário foi fundamental para a sua implementação.

A terceira revolução industrial foi a revolução do computador, começando na década de 1960, que nos trouxe o mainframe e a computação pessoal, em seguida, a Internet.

A Globalização é resultado (e factor de desenvolvimento) da Terceira Revolução Industrial.
Iniciado pela economia, o fenómeno da Globalização cresceu com as melhorias do transporte de pessoas e mercadorias, mas a sua principal característica reside no desenvolvimento da informática e da cibernética.
Informática é um termo usado para descrever o conjunto das ciências relacionadas ao armazenamento, transmissão e processamento de informações em meios digitais.
Cibernética: Ciência que estuda os mecanismos de comunicação e de controlo nas máquinas e nos seres vivos.

O telefone móvel, as comunicações por cabo ou por satélite e, principalmente, os computadores e a WWW* permitem estabelecer contacto áudio e vídeo em segundos ligando instantaneamente pessoas em diferentes lugares do mundo.
*WWW é a sigla para World Wide Web, que significa rede de alcance mundial, em português ou "teia em todo o mundo" ou "teia do tamanho do mundo“ em tradução literal.

A globalização económica e a massificação dos meios de comunicação produzem um outro fenómeno a aculturação* a nível planetário.

*aculturação
1. Fenómeno pelo qual um indivíduo ou um grupo humano de uma cultura definida entra em contacto permanente com uma cultura diferente e se adapta a ela ou dela retira elementos culturais.
2. Processo através do qual um indivíduo adquire ou se adapta à cultura de determinada sociedade.


Hoje vivemos a Quarta Revolução Industrial, o que afetará os governos, as empresas e as economias de maneiras muito substanciais. Não devemos subestimar as mudanças desta revolução em curso pois há muitas diferenças entre esta e as anteriores. A velocidade vertiginosa a que os acontecimentos agora se sucedem não tem precedentes na História da Humanidade.


domingo, 26 de março de 2017

A Cultura do Espaço Virtual (2): O consumo - Consumir para ser



O consumo é a utilização dos rendimentos na compra de bens e serviços necessários à vida tal como hoje a consideramos.

Podemos considerar diferentes tipos de consumo. Seguem-se alguns exemplos:
Consumo essencial e consumo supérfluo
O consumo essencial refere-se à satisfação de necessidades primárias através da aquisição e utilização de bens indispensáveis à nossa sobrevivência, como os alimentos, o vestuário ou a educação.
O consumo supérfluo ou de luxo assenta na satisfação de necessidades secundárias ou terciárias, ou à aquisição e utilização de bens dispensáveis à nossa vida, como os cosméticos ou o tabaco.
Consumo individual e coletivo
A compra de uma camisola ou a ingestão de alimentos por parte de um indivíduo, é considerado consumo individual (satisfaz a necessidade de um indivíduo).
O consumo coletivo satisfaz as necessidades de vários indivíduos (necessidades coletivas). O consumo de serviços de saúde, de educação ou de justiça, constituem exemplos deste tipo de consumo.

Sociedade de consumo é um termo utilizado para designar o tipo de sociedade que se encontra numa avançada etapa de desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços disponíveis, graças a elevada produção.

Algumas características da sociedade de consumo:
Para a maioria dos bens, a sua oferta excede a procura, levando as empresas a recorrerem a estratégias de marketing agressivas e sedutoras que induzem o consumidor a consumir, permitindo-lhes escoar a produção.
Os padrões de consumo estão massificados e o consumo assume as características de consumo de massas.
O consumo de alguns produtos como forma de integração social.
Existe uma tendência para o consumismo (um tipo de consumo impulsivo, descontrolado, irresponsável e muitas vezes irracional).
As multinacionais estão atentas à dicotomia consumo/produção criando constantemente novas marcas e novas modas que expõem aos consumidores através de agressivas campanhas publicitárias.
A publicidade faz com que o consumidor sinta necessidade de obter produtos de consumo, sejam eles essenciais ou supérfluos.
O poder de compra (poder de consumo) define a diferença entre ricos e pobres que se distanciam cada vez mais. 

Será aconselhável encontrar formas mais equilibradas de redistribuição da riqueza lutando contra a pobreza.

Desse modo poderemos consumir e ser e não consumir para ser.

http://www.stevecutts.com/ 

A Cultura do Espaço Virtual (1)



O tempo sobre o qual incide este módulo é já o presente.

Nos anos 60 do século XX, o mundo dividia-se em dois grandes blocos político-económicos: o bloco capitalista liberal, liderado pelos EUA e o comunista, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Os blocos rivais batiam-se em guerras um pouco por todo o globo apoiando facções inimigas de acordo com os seus interesses políticos e económicos. Foi o período da designada Guerra Fria, entre o fim da 2.ª Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim.
Em 1989 a queda do Muro de Berlim marcou o fim do bloco comunista. O Muro era o símbolo da Guerra Fria e havia sido construído em 1961.

Nos anos 60 deu-se o movimento de descolonização, iniciado após a 2.ª Guerra Mundial. Este movimento viria a terminar nos anos 70 com a independência das colónias portuguesas em África.
No entanto, muitos dos novos países nascidos na ex-colónias continuam, ainda hoje, com graves défices de desenvolvimento social e económico. Muitos destes países formam o designado Terceiro Mundo*.
*Terceiro Mundo é um termo da Teoria dos Mundos para descrever os países que se posicionaram como neutros na Guerra Fria, não se aliando nem aos Estados Unidos nem à União Soviética.
O conceito mais amplo do termo pode definir os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, ou seja, os que possuem uma economia ou uma sociedade pouco ou insuficientemente avançada.
A  maioria destes países continua dependente das tecnologias, dos produtos industriais e do apoio financeiro e humanitário do chamado mundo desenvolvido que, no entanto cobiça e explora as suas matérias-primas

Em muitos destes países existem conflitos étnico-culturais ou religiosos que estão na origem de sangrentos e intermináveis conflitos armados.
Estes conflitos põem em causa a estabilidade local e internacional e estão, em alguns casos, relacionados com o terrorismo internacional, um dos maiores flagelos do mundo contemporâneo.

Na década de 60, o enriquecimento económico era, como hoje, a prioridade das nações mas a industrialização entrou noutra etapa de evolução apostando em novas tecnologias.
As grandes empresas multinacionais dominam a economia e impõem uma visão transnacional dos mercados (globalização económica) e estão na origem da imposição do neoliberalismo*.
*Neoliberalismo - Sistema económico que adapta o liberalismo oitocentista às condições económicas do mundo globalizado. Defende a restrição do papel do estado na regulação do sistema e impõe a livre concorrência e a iniciativa privada.

As grandes empresas apoiam-se na inovação tecnológica que transformam os métodos e processos de produção que cada vez necessitam de menos mão-de-obra humana.

Nos países industrializados a classe operária é cada vez mais diminuta. Muitas fábricas deslocam a sua produção para países subdesenvolvidos onde as leis laborais são praticamente inexistentes.

A ciência e a técnica tornaram-se indispensáveis no nosso quotidiano.
Em nenhuma outra época a vida humana esteve tão dependente da tecnologia.