Proposta de trabalho de aula
7 textos são colocados à tua disposição.
São excertos de 7 romances ou contos de autores portugueses
ou de outras nacionalidades.
Deves seleccionar um desses excertos ou, em alternativa,
deves escolher um excerto de outra obra e trazê-lo na próxima aula no dia 6 de
Maio.
O trabalho consiste em fazer uma ilustração desse texto
recorrendo à técnica de pintura a acrílico.
Na aula de 6 de Maio deves também apresentar um esboço a
grafite sobre papel (formato A4 ou A3) da imagem que irás produzir como
resposta a esta proposta de trabalho.
Materiais necessários
Suporte – dadas as características das tintas
acrílicas podes optar por diferentes tipos de suporte para a tua pintura: papel
(o papel tipo cavalinho é desaconselhado), tela (podes reutilizar uma
tela cobrindo-a com tinta plástica branca fornecida pela escola) madeira,
contraplacado ou MDF.
A dimensão mínima do suporte será o tamanho A2 (42X59 cm
aproximadamente).
Esta dimensão pode ser “negociada”.
Tintas acrílicas - deves ter à disposição, no mínimo,
as cores primárias mais preto e branco.
Pincéis – deves ter à disposição pincéis de
diferentes espessuras. Quantos mais pincéis tiveres melhor.
Recipientes para água (vidro ou plástico), paleta
(madeira, plástico ou outro) e trapos para limpeza de pincéis.
Proposta de trabalho de casa
Ilustração de textos
Recorrendo à utilização da cor, executa duas ilustrações de
textos escolhidos entre os 7 propostos pelo professor ou outros, da tua
escolha.
Caso optes por ilustrar um texto escolhido por ti deves
entregá-lo juntamente com a ilustração.
Podes optar por um suporte de tamanho A4 ou A3 – tem em
atenção questões relacionadas com a composição espacial bem como com a
composição cromática.
Materiais a utilizar: lápis de cor, pastel de
óleo e aguarela.
1ª ilustração
Deves seleccionar um conjunto de cores frias.
2ª ilustração
Deves seleccionar um conjunto de cores quentes.
Em ambos os casos podes juntar preto e branco às cores
seleccionadas.
1º entrega 13 de Maio
2º entrega 27 de Maio
1.
Entretanto, os cavalos tinham alcançado os penedos
em que se situava o castelo, e a portuguesa, depois de ter ouvido tudo, afirmou
uma vez mais que queria ficar. O castelo erguia-se com seu ar de fortaleza
austera. Aqui e ali, pequenas árvores retorcidas emergiam entre as rochas como
cabelos esparsos. A floresta montanhosa estendia-se com tal fealdade que não
seria possível descrevê-la a quem só conhecia as ondas do mar. O ar era forte e
frio, e era como se se penetrasse numa cratera onde brilhasse uma luz verde.
E nas florestas havia veados, ursos, javalis, lobos
e, quem sabe, unicórnios. Lá no cimo viviam os cabritos monteses e as águias.
Cavernas ignoradas dariam guarida ao dragão. A floresta tinha uma profundeza de
semanas a fio, atravessada apenas por veredas selvagens, e, nas serranias que
se elevavam depois, era o reino dos espíritos. Ali viviam os demónios
juntamente com as tempestades e as nuvens.
Robert Musil, Três Mulheres, ed. Livros do
Brasil, 2011, pág. 51
2.
Um homem dos seus quarenta anos avançou porta
dentro trazendo atrás de si algo e alguém. O alguém, facilmente se percebeu,
era um rapazito que empurrava num carrinho de mão um objecto – uma máquina, percebeu-se depois. Com umas
moedas o rapazito desapareceu. O homem, esse, chamava-se Glasser e do seu peito
saía um fio eléctrico que o ligava a uma enorme bateria, de mais de vinte
quilos. Era uma bateria de camião.
- É o meu coração
artificial – explicou Glasser. – Já fazem mais pequenos mas este funciona.
Gonçalo M. Tavares, Matteo Perdeu o Emprego,
ed. Porto Editora, 2010, pág. 53
3.
Abandonei o local e prossegui o caminho. A trovoada
redobrava de intensidade e o trovão rebentou por cima de mim num estrondo
terrível cujo eco se repercutiu do Saléve ao Jura e aos Alpes da Sabóia.
Relâmpagos que me cegavam, iluminavam o lago, dando-lhe a aparência de uma
imensa planície de fogo e depois, durante um momento, tudo parecia submerso
numa obscuridade completa, a tal ponto os olhos se achavam ofuscados pela luz
violenta.
Enquanto
contemplava esta tempestade magnífica e terrível, ia avançando a passos
rápidos. A batalha no céu arrebatava-me a alma. Pus as mãos e gritei:
- William! Meu
anjo! É o teu funeral, são os teus cantos fúnebres?
Ao dizer estas
palavras, distingui na obscuridade uma silhueta a sair furtivamente de um grupo
de árvores, não longe de mim. Fiquei imóvel, fixando-a intensamente. Não podia
enganar-me. Um relâmpago iluminou-a, e vi distintamente a estatura gigantesca,
o corpo disforme e hediondo do miserável demónio a quem dera vida.
Mary Shelley, Frankenstein, ed. Círculo de
Leitores, 1976, pág. 56-57
4.
Nas aulas os olhos enchiam-se-lhe de lágrimas e
revolta sempre que o amigo, de boca aberta e giz a pender dos dedos, em frente
ao quadro de ardósia, se mostrava incapaz de distinguir o numerador do
denominador, de identificar o complemento direto e, ainda menos, o indireto, de
entender a racionalidade de um número, de aplicar as propriedades das operações
aritméticas, de escrever a data em francês.
Mas nada fazia
perder a fé inabalável que Duarte depositava no amigo. A certeza de que um
futuro glorioso lhe estaria reservado. E o privilégio que sentia em ser seu
colega de carteira enchia-lhe o peito de orgulho e gratidão. É que Duarte
estava absolutamente convencido de que o Índio era um génio.
Perante a pobreza em que o Índio vivia, Duarte
comportava-se como um verdadeiro mecenas. Com o dinheiro que amealhava em
Natais e aniversários, comprava-lhe blocos de papel e lápis de várias marcas e
durezas: primeiro os Viarco, depois
os Faber-Castell, depois os Staedler, por fim os Caran d’Ache.
João Ricardo Pedro, O Teu Rosto Será o Último, ed. Leya,
2012, pág. 78-79
5.
Há uns seis anos
– tinha eu voltado de uma viagem e já estava aborrecido com o ócio e a rotina
simples da vida doméstica, mas não aborrecido a ponto de planear uma nova
expedição – fui uma noite, já tarde, interrompido na minha escrita diária por
um visitante inesperado.
Era um fulano
ruivo, na primavera da vida, que tinha um estrabismo tão terrível que era
difícil olhar directamente para a cara dele; para complicar as coisas ele tinha
um olho verde e outro castanho. Na sua expressão a sua cara parecia combinar
duas pessoas; uma, tímida e nervosa, a outra – a dominante – arrogante e
agudamente cínica. Uma mistura espantosa, pois umas vezes ele olhava para mim
com o olho castanho, imóvel e arregalado, e outras vezes com o verde que era
comicamente revirado para cima.
- Senhor Tichy –
disse ele logo que entrou no meu gabinete – muitos trapaceiros, impostores e
malucos devem importuná-lo, tentar burlá-lo ou cair-lhe em cima. Não é um
facto?
- Acontece –
repliquei. – Então, o que é eu posso fazer por si?
Stanislaw Lem, Viagens de Ijon Tichy, ed. Caminho, 1987, pág.
40-41
6.
O Dragão possui a capacidade de assumir muitas
formas, mas estas são inescrutáveis. Em geral, imaginam-no com cabeça de
cavalo, cauda de serpente, grandes asas laterais e quatro garras, cada uma
provida de quatro unhas. Fala-se mesmo das suas nove semelhanças; os cornos
assemelham-se aos de um cervo, a cabeça à do camelo, os olhos aos de um
demónio, o pescoço ao da serpente, o ventre ao de um molusco, as escamas às de
um peixe, as garras às da águia, as plantas dos pés às do tigre e as orelhas às
do boi. É habitual representá-lo com uma pérola, que lhe pende do pescoço e é o
emblema do Sol. O seu poder está nessa pérola. É inofensivo se lha tiram.
Jorge Luís Borges, O Livro dos Seres
Imaginários, ed. Teorema, 2009, pág. 65
7.
O frio tem mil formas e mil modos de andar no
mundo: no mar corre como uma manada de cavalos, nos campos lança-se como uma
praga de gafanhotos, enquanto nas cidades como lâmina de faca vai cortando
as ruas infiltrando-se pelas gretas das casas sem aquecimento. Em casa de
Marcovaldo naquela noite tinham acabado os últimos bocados de lenha, e a família,
toda encapotada, via na salamandra empalidecerem as últimas brasas, e sair das
suas bocas uma nuvem a cada respiro. Já não diziam nada; as nuvens é que
falavam por eles: a mulher soltava-as longas como suspiros, os filhos
sopravam-na absortos como se fossem bolas de sabão, e Marcovaldo lançava-as
para o ar aos repelões como ideias luminosas que logo se desvanecem.
Italo Calvino, Marcovaldo, ed. Teorema,
1994, pág. 51
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