Neste final de Setecentos (...) a ideia de Sublime associa-se antes de mais a uma experiência não ligada à arte, mas à natureza, e nesta experiência priviligiam-se o informe, o doloroso e o tremendo. Ao longo dos séculos, havia-se reconhecido que há coisas que são belas e agradáveis, e coisas ou fenómenos terríveis, espantosos e dolorosos: frequentemente a arte louvada por ter imitado ou representado, de modo belo, o feio, o informe e o terrível, os monstros e o diabo, a morte ou uma tempestade. Na sua Poética, Aristóteles explica precisamente como é que a tragédia, ao representar eventos tremendos, deve produzir piedade e terror no ânimo do espectador. (...) No século XVII, alguns pintores são apreciados pelas suas representações de seres feios, desagradáveis, estropiados e tortos, ou de céus nebulosos e tempestuosos, mas ninguém afirma que um temporal, um mar em tempestade, uma coisa sem forma definida e ameaçadora, possa ser belo por si mesmo.
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
O Sublime
Neste final de Setecentos (...) a ideia de Sublime associa-se antes de mais a uma experiência não ligada à arte, mas à natureza, e nesta experiência priviligiam-se o informe, o doloroso e o tremendo. Ao longo dos séculos, havia-se reconhecido que há coisas que são belas e agradáveis, e coisas ou fenómenos terríveis, espantosos e dolorosos: frequentemente a arte louvada por ter imitado ou representado, de modo belo, o feio, o informe e o terrível, os monstros e o diabo, a morte ou uma tempestade. Na sua Poética, Aristóteles explica precisamente como é que a tragédia, ao representar eventos tremendos, deve produzir piedade e terror no ânimo do espectador. (...) No século XVII, alguns pintores são apreciados pelas suas representações de seres feios, desagradáveis, estropiados e tortos, ou de céus nebulosos e tempestuosos, mas ninguém afirma que um temporal, um mar em tempestade, uma coisa sem forma definida e ameaçadora, possa ser belo por si mesmo.
domingo, 4 de novembro de 2007
A obra de arte total e efémera

"(...) Esta obra de arte total não engloba somente na sua interpenetração mútua as artes chamadas nobres: a arquitectura, a escultura, a pintura e o ornamento, tal como estão reunidas na construção de igrejas e palácios, mas também a festa, que faz com que estas artes colaborem nos cerimoniais religiosos e seculares, aí acrescendo, além disso a música, a poesia e a dança. (...)
(...) a intenção do cerimonial temporário é (...) um traço constante da arte barroca. A «dinâmica» tantas vezes citada que nós vemos animar as fachadas e os interiores, as figuras de santos elevados aos céus das pinturas de tectos por meio de energias sobrenaturais e, numa larga parte também, as diversas formas de emoção da alma expressas pelas atitudes e pelas expressões das personagens, esta dinâmica tinha em vista abolir a contradição entre o instante e a duração, o que não podia ser obtido em outra parte que não fosse no cerimonial nem em outra forma que não fosse simbólica.
Nenhuma outra época teve uma consciência tão aguda de viver no temporal. Não é por acaso que as maiores energias espirituais e materiais são constantemente mobilizadas para arquitecturas efémeras, para os grandes programas iconológicos e para as decorações de cortejos triunfais, para os «trionfi» e as «entradas solenes» e, em última análise, também para as grandes cenas de aparato, as «castra doloris», as solenidades fúnebres.
Os pontos culminantes do paradoxo que estes monumentos do efémero, como se poderia chamar a este tipo de manifestações, parecem encarnar, eram os fogos de artifício. Em oposição total com o que se entende habitualmente nos dias de hoje por este termo, eles tinham um carácter inteiramente representativo. Os homens que os concebiam e os punham a funcionar gozavam da mesma consideração que os artistas mais celebrados; o homem do barroco não poderia ter feito uma diferença entre a «arte» e um extraordinário fogo de artifício, na medida em que a depuração do conceito de arte (...) estava ainda fora do alcance de vista."
In A Pintura do Barroco de Andreas Prazer e Hermann Bauer sob a direcção de Ingo F. Walter, ed Taschen, 1997
O texto refere e acentua a ideia, exposta no espaço de aula, de um certo sentido de grandiosidade, característico da manifestação artística do período Barroco, alcançado frequentemente pela "mistura" de diferentes tipos de linguagens e formas de expressão artística. Esta "obra de arte total" terá de ser, obrigatoriamente, efémera.
A própria vida quotidiana das classes mais elevadas é muitas vezes encarada como uma cerimónia, uma espécie de liturgia, com as suas regras específicas e um acentuado sentido do espectáculo.
No período do Barroco parece ter havido uma grande vontade de aproveitar ao máximo as possibilidades de prazer oferecidas a determinadas personagens por um estilo de vida pleno de glamour e bem-estar. Este modo de vida está apenas ao alcance dos grandes favorecidos pela dominação do aparelho produtivo em conjugação com o aparelho institucional e repressivo que garante a distância em relação às classes mais desfavorecidas e que são a base de sustentação da riqueza dos poderosos. Até mesmo esta acentuada diferença entre classes sociais, o violento contraste nas condições de vida e de sobrevivência de uns e outros, serve de metáfora ao acentuado jogo entre a luz e a treva que temos por característico deste período artístico.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Tampas de esgotos

Encontrei estes lugares onde podem encontrar tampas de esgoto com aspectos interessantes:
http://www.funforever.net/archives/manhole-cover-art-in-japan/
http://damncoolpics.blogspot.com/2006/12/japanese-manhole-cover-art.html
Retirei a informação deste post do blogue http://cimitan.blogspot.com/.
domingo, 7 de outubro de 2007
Visita de estudo
A propósito da visita de estudo agendada para o próximo dia 18 de Outubro aqui ficam alguns links relacionados:
http://amen.no.sapo.pt/Palacio%20do%20Freixo.htm
algumas informações sobre o Palácio do Freixo, edifício com características próprias do estilo Barroco que temos vindo a abordar nas últimas aulas. Contém um apreciável número de imagens interessantes;
http://www.vidaslusofonas.pt/nicolau_nasoni.htm
algumas informações relacionadas com o arquitecto Nicolau Nasoni, autor do projecto do Palácio do Freixo bem como de um número significativo de outras obras arquitectónicas com traços barrocos que realizou no nosso país;
http://dn.sapo.pt/2007/07/30/artes/palacio_freixo_hospeda_dali.html
notícia publicada no Diário de Notícias Online sobre a exposição que iremos visitar;
http://www.virtualdali.com/
um dos muitos sítios da Net dedicados ao mestre pintor dos bigodes esquisitos.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Trabalho de casa
A propósito do trabalho proposto para entrega na próxima 3ª feira aqui ficam 4 links possíveis de acesso a imagens dos pintores referidos. Relembro que o trabalho consiste num pequeno texto (10 a 15 linhas) com o título genérico "Pintura Barroca".
Georges La Tour http://www.christusrex.org/www2/art/Latour.htm
Vermeer http://essentialvermeer.20m.com/index.html
Caravaggio http://www.christusrex.org/www2/art/caravaggio.htm
Rembrandt http://www.rembrandtpainting.net/
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Sobre Luís XIV (outra lição do Mestre Gombrich)

(…)Um ano depois da morte do cardeal (Richelieu), em 1643, o rei Luís XIV subiu ao trono. Tinha quatro anos naquela altura e o seu reinado ainda continua a ser o mais longo da História. Foi rei até 1715, durante setenta e dois anos. Além disso, era um rei a sério. Não enquanto era criança, mas logo depois de o tutor, o cardeal Mazarin, ter morrido (Mazarin foi o sucessor do cardeal Richelieu), altura em que Luís XIV quis começar a reinar sozinho. Deu ordens para que ninguém, a não ser ele, pudesse passar passaportes aos Franceses. A corte achou aquilo tudo muito engraçado, pensando que esse interesse não passava do capricho de um jovem rei. Pensou que ele depressa se ia cansar de reinar. Mas isso não aconteceu. Para Luís XlV, ser rei não era um simples acidente de nascimento. Para ele, era como se tivesse recebido o papel principal numa peça de teatro que tinha de representar até ao resto da vida. Nunca ninguém, nem antes nem depois dele, aprendeu tão bem esse papel, nem o representou com tanta dignidade e cerimónia até ao fim da vida.
Luís XIV assumiu todos os poderes que tinham sido primeiro de Richelieu e depois de Mazarin. A nobreza tinha poucos direitos para além de ver Luís XIV a desempenhar o seu papel. Esta actuação solene - que se chamava lever - começava cedo, às oito da manhã, quando ele se dignava levantar da cama. Os primeiros a entrar no quarto de cama eram os príncipes reais do mesmo sangue, com o camarista da corte e o médico. Depois, os criados apresentavam-lhe com grande cerimónia e em vénia duas grandes perucas encaracoladas e empoadas. O rei escolhia uma delas consoante a inclinação daquele dia e depois vestiam-lhe uma magnífica camisa de noite antes de ele se sentar ao lado da cama. Só nessa altura é que os nobres de hierarquia mais elevada, os duques, podiam entrar no quarto; a seguir, enquanto o rei ia sendo barbeado pelos seus secretários, entravam à vez os oficiais e diversos funcionários. Finalmente, abriam-se as portas de par em par para que lá entrasse toda uma hoste de esplêndidos dignatários - mestres-de-cerimónias, governadores, príncipes da Igreja e favoritos do rei - que vinham admirar o espectáculo solene de Sua Majestade o Rei a ser vestido.
Estava tudo regulamentado até ao mínimo detalhe. A maior honra que se podia ter era a permissão para apresentar ao rei a camisa a vestir, que se aquecia antes com cuidado. Essa honra era concedida ao irmão do rei ou, na ausência dele, à pessoa seguinte da hierarquia. O camarista segurava numa manga, um duque segurava na outra e o rei metia-se dentro da camisa. O processo continuava assim até o rei ficar completamente vestido, com meias de seda de cores vivas, calções de seda que davam pelo joelho, um gibão de cetim brocado e uma faixa azul-celeste, com a espada na cintura, um casaco bordado e um colarinho de renda que um funcionário de elevado posto, o guardião dos colarinhos do rei, lhe apresentava numa bandeja de prata. O rei saía então dos seus aposentos, com chapéu de pluma e bastão na mão, sorridente e elegante, e entrava no grande salão com uma saudação polida e cordial para toda a gente, enquanto as pessoas que o rodeavam se afastavam para o deixar passar com expressões de espanto e declaravam que, naquele dia, o rei estava mais belo do que Apolo, o deus do Sol, e mais forte do que Hércules, o herói da Grécia Antiga. Ele era o próprio Sol divino, le Roi Soleil - O Rei-Sol, que dava o calor e a luz de que dependia toda a vida na Terra. Era como o faraó, pensaste tu se calhar, porque também lhe chamavam Filho do Sol. Só que havia uma grande diferença. Os antigos Egípcios acreditavam mesmo nisso, enquanto para Luís XIV era só uma espécie de jogo em que e todas as outras pessoas sabiam que aquilo não passava de uma representação cerimoniosa, bem ensaiada e magnífica.
Na ante câmara real, depois das preces matinais, o rei anunciava o programa do dia. Depois seguiam-se muitas horas de trabalho a sério que ele fazia para controlar pessoalmente todos os assuntos de Estado. Para além disso, faziam-se muitas caçadas e havia bailes e produções teatrais de grandes poetas e actores que a corte apreciava e a que o rei assistia sempre. Todas as refeições implicavam uma cerimónia tão trabalhosa como o lever, e até o acto de ir para a cama era uma complicada produção parecida com o ballet, que deu origem a alguns momentos cómicos. Por exemplo, toda a gente tinha de fazer uma vénia ao passar pela cama do rei, como os fiéis fazem no altar da igreja, mesmo quando o rei não estava lá. Sempre que o rei estava a jogar às cartas ou a conversar com alguém havia uma multidão de pessoas a uma distância respeitosa, atentas a todas as palavras do soberano.
O objectivo de todos os homens da corte era vestirem-se como o rei, transportar o bastão como ele fazia, usar o chapéu como ele, sentar-se e movimentar-se como ele. O objectivo de todas as mulheres era agradar-lhe. Usavam colarinhos de renda e vestidos amplos de tecidos ricos e adornados com jóias preciosas, que faziam frufru.
A vida girava à volta da corte e tinha por cenário os palácios mais magníficos que alguma vez tinham existido. Os palácios eram a grande paixão de Luís XlV. Houve um de nome Versalhes que ele mandou construir para si próprio nos arredores de Paris. Era quase tão grande como uma cidade, com um número infinito de quartos revestidos a ouro e damasco, e candelabros de cristal, espelhos aos milhares, e mobília que era toda cheia de curvas e ouro, com estofos de veludo e de seda. Nas paredes estavam pendurados quadros espantosos em que se podia ver Luís XIV vestido de muitas formas diferentes. Num dos quadros, Luís XIV está vestido de Apolo, e todos os países da Europa lhe prestam homenagem. Os jardins eram ainda maiores do que o palácio. Tudo o que havia nos jardins era magnífico, elaborado e teatral. Não havia árvore que crescesse como lhe apetecia, nem arbusto que mantivesse a forma natural. Cortava-se, aparava-se e modelava-se tudo o que era verde para dar origem a vedações de folhagem, sebes arqueadas, grandes relvados e canteiros de flores em espiral, avenidas e pracetas, adornados com estátuas, lagos e repuxos. Sendo obrigados a viver na corte, os duques poderosos do antigamente e as suas esposas calcorreavam os caminhos de gravilha, trocando comentários espirituosos e polidos sobre a forma como o embaixador da Suécia tinha feito uma vénia e outras coisas desse género.
Pensa só quanto devia custar ter um palácio assim e um estilo de vida destes! O rei tinha duzentos criados só ao serviço dele, mas isso era apenas uma pequena parte. No entanto, Luís XIV tinha ministros espertos, que eram quase todos homens de origem humilde escolhidos pelas suas capacidades extraordinárias. Estes homens eram peritos em extrair dinheiro ao país. Controlavam muito bem o comércio externo e estimulavam ao máximo os ofícios e a indústria de França. O custo real recaía sobre os camponeses, que eram sobrecarregados com impostos e deveres de todo o tipo. Enquanto na corte se comia em pratos de ouro e prata, a transbordar com manjares da melhor qualidade, os camponeses comiam restos e ervas daninhas.
Apesar de tudo, a vida na corte não era o que tinha mais custos. Mais dispendiosas eram as guerras em que Luís XIV se metia, muitas vezes só com o objectivo de aumentar o poder que já tinham à custa dos países vizinhos. Com o exército imenso e bem equipado que tinha, invadiu tanto a Holanda como a Alemanha, e conquistou, por exemplo, Estrasburgo aos Alemães, sem oferecer nenhum pretexto verdadeiro para essas acções. Via-se a si mesmo como o senhor de toda a Europa, e, num certo sentido, até o era. Todos os grandes homens da Europa o imitavam. Em breve, todos os príncipes alemães - mesmo aqueles que apenas possuíam um pedaço miserável de terra - tinham o seu próprio palácio gigante, ao estilo de Versalhes, com muito ouro e damasco, sebes aparadas, homens de grandes cabeleiras, senhoras empoadas com vestidos volumosos, cortesãos e aduladores.
Tentavam imitar Luís XIV de todas as formas, mas havia sempre alguma coisa em falta. Esses príncipes eram o que Luís XIV só fingia ser: eram imitações de reis, um pouco cómicos, de ar pomposo e roupas estilosas todas reluzentes. Luís XIV era mais do que isso. Caso não acredites em mim, vou mostrar-te parte de uma carta que ele escreveu ao neto, quando este se ia embora para se tornar rei de Espanha: «Nunca favoreças quem te adula mais, mantém sim perto de ti quem se arrisca a desagradar-te para o teu próprio bem. Nunca esqueças os negócios por causa do prazer, organiza a tua vida de modo a teres tempo para relaxar e divertir-te. Dá toda a tua atenção à governação. Informa-te o mais que puderes antes de tomar uma decisão. Faz todos os esforços por conhecer homens distintos, para poderes recorrer a eles quando tiveres necessidade. Sê cortês com toda a gente, não ofendas ninguém.» Eram estes os princípios orientadores do rei Luís XIV de França, aquela mistura espantosa de vaidade, encanto, extravagância, dignidade, indiferença, frivolidade e trabalho a sério.
E. H. Gombrich, Uma Pequena História do Mundo, editora Tinta da China; páginas 221 a 224
A última frase deste texto, quando Gombrich resume as características principais de Luís XIV, acaba por ser uma excelente metáfora do próprio estilo Barroco. O Rei Sol foi, ele próprio, um verdadeiro monumento ao espírito artístico da época em que viveu.
terça-feira, 31 de julho de 2007
Primeira Lição do Mestre Gombrich

De facto, não penso que existam quaisquer razões erradas para se gostar de uma estátua ou de uma tela. Alguém pode gostar de uma paisagem porque ela lhe recorda a terra natal, ou de certo retrato porque lhe lembra um amigo. Nada há de errado nisso. Todos nós, quando vemos um quadro, somos fatalmente levados a recordar mil e uma coisas que influenciam o nosso agrado ou desagrado. Na medida em que tais lembranças nos ajudam a fruir do que vemos, não temos que nos preocupar. Só quando alguma recordação irrelevante nos torna preconceituosos, quando instintivamente voltamos costas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de alpinismo, é que devemos sondar o nosso íntimo para desvendar as razões dessa aversão, que frustra o prazer que, de outro modo, poderíamos ter tido. Também existem razões erradas para não se gostar de uma obra de arte."
E. H. Gombrich, A História da Arte, Público (http://loja.publico.clix.pt/Publico/DetalheProduto.html?id=684), página 15, Introdução-Sobre arte e artistas
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Informalismos

quarta-feira, 23 de maio de 2007
O TRIUNFO DA ARQUITECTURA MODERNA
quarta-feira, 16 de maio de 2007
Curiosidades com papel

terça-feira, 15 de maio de 2007
O ornamento é um crime?



«A linguagem ornamental da Arte Nova acabou por estagnar (...) em simples jogos decorativos. Já antes da Primeira Guerra Mundial este estilo era criticado e troçado, e isto só se viria a alterar com o início da onda nostálgica, nos anos 70 do século XX.
O austríaco Adolf Loos, um percursor do Movimento Moderno, postulava, num artigo fortemente polémico de 1908, que o ornamento era, no geral, "um crime", uma vez que os produtos decorados eram mais caros de produzir mas não podiam ser vendidos por preços mais altos, pelo que os operários só recebiam salários de miséria; além disso os produtos tornavam-se obsoletos antes de estarem gastos devido à evolução da moda: "O ornamento comete um crime ao prejudicar gravemente as pessoas no que respeita à saúde, aos recursos nacionais e, deste modo, ao seu desenvolvimento cultural. E ainda: "Já superámos o ornamento, conseguimos vencê-lo e libertarmo-nos dele. Olhai, é chegado o tempo, a realização espera-nos. Em breve as ruas das cidades brilharão como paredes brancas!" Com esta profecia Loos andava perto da realidade e as suas próprias obras - como a Casa Goldman & Salatsch, em Viena (1909-1911 na imagem acima) eram, com as suas fachadas lisas, isentas de ornamentos e as suas formas simples, uma verdadeira provocação.»
in História da Arquitectura, da Antiguidade aos nossos dias, de Jan Gympel, página 82, 1996 Könemann, edição portuguesa em 2000
Loos é um dos primeiros arquitectos/designers do início do século XX a enfatizar uma realização artística na arquitectura que ultrapasse conscientemente e de forma eficaz os constrangimentos académicos dos revivalismos historicistas em voga na viragem do século. A Arte Nova tivera a capacidade de transformar os novos materiais (o ferro e o vidro) em elementos construtivos plenamente assumidos, conferindo-lhes a dupla função de organizar o espaço e decorá-lo. Com os seus ferros forjados em elegantes linhas sinuosas, contribuiu para a criação de uma linguagem plástica adequada ao novo século XX.
A perspectiva de Loos ultrapassa a visão Arte Nova, propondo uma arquitectura mais lúcida e racional que representasse um mundo verdadeiramente novo, em ruptura com o passado. As suas ideias estarão na base de um pensamento mais racionalista e funcionalista que irá desenvolver-se na arquitectura ocidental, melhor adequada aos desafios das grandes cidades contemporâneas, numa perspectiva de beneficiar o interesse das massas ao interesse particular do indivíduo. Estamos a assistir aos primeiros passos do Modernismo na arquitectura que irá impor a sua regra até meados dos anos 60.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
«O que é Dada?»

Este texto, retirado de Dadaísmo da autoria de Dietmar Elger, publicado pela Taschen, coloca-nos perante a dúvida essencial relacionada com este movimento vanguardista do início do século XX: Há um limite para a arte? Pode a criação artística ser encarada como um pássaro azarado que tenha nascido dentro de uma gaiola e imagine serem as grades limite e possibilidade extrema da sua liberdade?
Dietmar Elger prossegue:
O dadaísmo não era exclusivamente um movimento artístico, literário, musical, político ou filosófico. Na realidade era todos eles e ao mesmo tempo o oposto: anti-artístico, provocativamente literário, divertidamente musical, radicalmente político mas anti-parlamentar e, por vezes, simplesmente infantil.
O dadaísmo foi um movimento de ruptura e desalinho. Contra uma Europa a rebentar pelas costuras numa guerra declarada entre Estados-nação hostis, industrializados e armados até aos dentes, envolvidos na guerra mais sangrenta de que, até aí, havia memória.
Refugiados em Zurique, na imparcial Suiça, entrincheirados no mítico Cabaret Voltaire, os pioneiros do dadaísmo quiseram inventar uma forma de expressão artística que se distanciasse da carnificina e da ambição desmedida da sociedade industrial e capitalista que conduzira a velha Europa à beira do precipício.
Era necessário inventar um outro modo de ser humano na conjuntura civilizacional do dealbar do século XX e foi esse o trabalho do movimento Dada. Com pleno sucesso, como veremos.
Manifesto Dadaísta

Hugo Ball
Dadá é uma nova tendência da arte. Percebe-se que o é porque, sendo até agora desconhecido, amanhã toda a Zurique vai falar dele. Dadá vem do dicionário. É bestialmente simples. Em francês quer dizer "cavalo de pau" . Em alemão: "Não me chateies, faz favor, adeus, até à próxima!" Em romeno: "Certamente, claro, tem toda a razão, assim é. Sim, senhor, realmente. Já tratamos disso." E assim por diante.
Uma palavra internacional. Apenas uma palavra e uma palavra como movimento. É simplesmente bestial. Ao fazer dela uma tendência da arte, é claro que vamos arranjar complicações. Psicologia Dadá, literatura Dadá, burguesia Dadá e vós, excelentíssimo poeta, que sempre poetastes com palavras, mas nunca a palavra propriamente dita. Guerra mundial Dadá que nunca mais acaba, revolução Dadá que nunca mais começa. Dadá, vós, amigos e Também poetas, queridíssimos Evangelistas. Dadá Tzara, Dadá Huelsenbeck, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá, Dadá Hue, Dadá Tza.
Como conquistar a eterna bemaventurança? Dizendo Dadá. Como ser célebre? Dizendo Dadá. Com nobre gesto e maneiras finas. Até à loucura, até perder a consciência. Como desfazer-nos de tudo o que é enguia e dia-a-dia, de tudo o que é simpático e linfático, de tudo o que é moralizado, animalizado, enfeitado? Dizendo Dadá. Dadá é a alma-do-mundo, Dadá é o Coiso, Dadá é o melhor sabão-de-leite-de-lírio do mundo. Dadá Senhor Rubiner, Dadá Senhor Korrodi, Dadá Senhor Anastasius Lilienstein.
Quer dizer, em alemão: a hospitalidade da Suíça é incomparável, e em estética tudo depende da norma.
Leio versos que não pretendem menos que isto: dispensar a linguagem. Dadá Johann Fuchsgang Goethe. Dadá Stendhal. Dadá Buda, Dalai Lama, Dadá m'Dadá, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá. Tudo depende da ligação e de esta ser um pouco interrompida. Não quero nenhuma palavra que tenha sido descoberta por outrem. Todas as palavras foram descobertas pelos outros. Quero a minha própria asneira, e vogais e consoantes também que lhe correspondam. Se uma vibração mede sete centímetros, quero palavras que meçam precisamente sete centímetros. As palavras do senhor Silva só medem dois centímetros e meio.
Assim podemos ver perfeitamente como surge a linguagem articulada. Pura e simplesmente deixo cair os sons. Surgem palavras, ombros de palavras; pernas, braços, mãos de palavras. Au, oi, u. Não devemos deixar surgir muitas palavras. Um verso é a oportunidade de dispensarmos palavras e linguagem. Essa maldita linguagem à qual se cola a porcaria como à mão do traficante que as moedas gastaram. A palavra, quero-a quando acaba e quando começa.
Cada coisa tem a sua palavra; pois a palavra própria transformou-se em coisa. Porque é que a árvore não há-de chamar-se plupluch e pluplubach depois da chuva? E porque é que raio há-de chamar-se seja o que for? Havemos de pendurar a boca nisso? A palavra, a palavra, a dor precisamente aí, a palavra, meus senhores, é uma questão pública de suprema importância.
Zurique, 14 de Julho de 1916
quinta-feira, 5 de abril de 2007
Fauvismo (4) Outra vez Vlaminck


quarta-feira, 4 de abril de 2007
Fauvismo (3) E agora... Matisse!

"Pintar significa provocar artísticamente um fenómeno concreto, a partir da superfície. O pintor liga-se a um motivo que impressionou a sua sensibilidade e o seu instinto vital. Há que tornar esse motivo «essencial», traduzindo-o em puros valores de superfícies de cor e de linha, simples e intensificados, pois o mero reflexo das impressões passageiras seria apenas um estímulo fugidio e não um valor duradoiro e essencial. Matisse esclarece como essa tradução [do motivo «essencial» em superfícies de cor e de linha] muda inteiramente as formas e as cores dadas pelo motivo e, no entanto (...) não se afasta do objecto, mas antes o eleva a um estado ideal, pois cada elemento colorido e formal, num debate meramente artístico com o campo de tensão que é a superfície, é levado ao ponto de irradiar pura e tranquilamente o seu valor de eficiência, apoiado e intensificado por todos os outros elementos [da composição]."
Este texto de Walter Hess (in Documentos Para a Compreensão da Pintura Moderna, Edição Livros do Brasil, Lisboa, págs. 66 e 67) reflecte sobre uma certa ideia de "pintura pura" patente na obra de Henri Matisse (1869-1954) em que aquilo que é representado sobre a tela se autonomiza em relação ao motivo que lhe é exterior, atingindo a pintura um «valor essencial» que lhe é próprio e a caracteriza.
Hess prossegue a sua reflexão:
"Este valor de eficiência é nitidamente para Matisse um valor puro de vivacidade, de prazer, de serenidade que na superfície pode ser próprio de toda a cor e de toda a forma. (...) As cores não pretendem exprimir nem significar nada senão cor, mas, na medida em que representam de um modo inteiramente puro o seu próprio valor, acentuado pelo prazer, provocam simultaneamente de uma forma artística um fenómeno (o motivo), a partir da superfície [da tela]. Decoração e expressão tornam-se idênticas e a tensão indivíduo-mundo fica reduzida a um equilíbrio puramente estético. Matisse desenvolveu uma subtil sabedoria estética a partir do Fauvismo sem lhe enfraquecer a vitalidade original."
Podemos então concluir que Matisse "descobre" um processo criativo que torna a tela num objecto particular e artificial, que obedece a regras próprias e específicas ditadas pelo pintor, que é livre de as estabelecer de acordo com a sua sensibilidade artística.
Partindo desta premissa, o artista sente-se livre para desenvolver um jogo formal e cromático que obedece a um conjunto de regras internas, próprias daquele objecto particular, que lhe conferem a coerência necessária para satisfazer as exigências características do objecto plástico.
A questão de "reduzir" a obra de arte a um objecto decorativo não se coloca a Matisse uma vez que aquilo que orienta a sua pesquisa plástica é a busca de uma certa possibilidade de felicidade encontrada na fruição artística e não a intenção de explorar temas grandiosos ou de pendor social. Poderíamos afirmar que Matisse se interessou muito mais pela forma do que pelo conteúdo.
terça-feira, 3 de abril de 2007
Fauvismo (2) Ainda Vlaminck (1876-1958)
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Fauvismo (1)

Arranja disponobilidade e paciência e faz uma pesquisa para cada um destes nomes.
Henri Matisse
Georges Rouault
Albert Marquet
André Derain
Maurice Vlaminck
Pronto. Já está?
Deves ter chegado a algumas conclusões interessantes, não?
Na Escola falamos sobre o assunto.
Continuação de boas férias.
terça-feira, 6 de março de 2007
Links

Entradas para sites muito variados que proporcionam possibilidades de pesquisa nas mais diversas áreas relacionadas com as artes plásticas. Desde a Pré-História até à actualidade.
Bons passeios!
segunda-feira, 5 de março de 2007
Pós-Impressionismo

Vincent van Gogh
Paul Gauguin
Henri de Toulose Lautrec
Paul Cézanne
Odilon Redon
Georges Seurat
Simbolismo
Na Wikipédia deves procurar estender a tua pesquisa a partir do Simbolismo nas Artes Plásticas. Os nomes dos artistas aí referidos bem como a entradas para Les Nabis devem merecer a tua atenção. Não fiques pela Wikipédia. Varia a tua pesquisa.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
Realismo oitocentista (Daumier)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
Manet

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007
O Salão (texto do miniguia de arte, Cézanne, ed. Köneman)


Alexandre Cabanel, O Nascimento de Vénus, 1863, pintura aceite no Salão, óleo sobre tela, 130x225cm (actualmente exposta no museu d'Orsay em Paris
É destes salões oficiais, detestados pelos vanguardistas, que são derivadas as expressões desdenhosas ainda hoje usadas, como «arte de salão» e «pintura de salão». Uma pintura como O Nascimento de Vénus de Alexandre Cabanel, que foi exposta no Salon de 1863, fez parte das obras que conseguiram a aprovação do júri, uma vez que trata um motivo mitológico segundo os cânones da pintura académica.
Zola que, como crítico de arte, procurava chamar a atenção para as novas tendências da pintura contemporânea, não poupava o SaJon a comentários satíricos. Ao analisar o Salão de Pintura de 1866, caracterizou a composição do júri do seguinte modo:
«De um lado os colegas simpáticos, que recusam ou aceitam com indiferença; os bem sucedidos, que venceram a batalha; os artistas de ontem, que se agarram às suas convicções e não permitem qualquer inovação e, finalmente, os artistas de hoje, que conseguem pequenos êxitos com uma arte insignificante, defendendo-os com unhas e dentes, insultando e ameaçando qualquer colega que se aproxime deles.» Quando, em 1863, um número enorme de quadros foi recusado pelo Salon, tanto os artistas como a imprensa desencadearam uma campanha de protestos que levou o imperador Napoleão III a autorizar a exposição dos trabalhos recusados numa outra parte do Palais de l'lndustrie para que o público pudesse «julgar por si sobre a razão desse protesto». Este «Contra-salão», que entrou para a história da arte com o nome de Salon des Refusés (Salão dos Recusados), provocou um escândalo que não foi menor.
Os visitantes da exposição, habituados ao academismo dominante, foram confrontados com quadros de Manet, Pissarro, Jongkind, Guillaumin, Whistler, Fantin-Latour, entre outros, sentindo-se totalmente chocados.
A imprensa atacou o Salon des Refusés com uma crítica mordaz. (…)
O Salão dos Recusados, de 1863, não voltaria a ser repetido. Nos anos que se seguiram não restou outra alternativa aos artista a não ser a de submeterem de novo, tal como era habitual, as suas obras ao Salão oficial e esperarem pelo veredicto do júri. No entanto, as obras recusadas parecem ter gerado, tal como anteriormente, uma grande atenção do público(…). Só a partir de 1884, com o Salon des Indépendants (Salão dos Independentes), se deu início em Paris a uma exposição anual de pintura independente do júri da Escola de Belas-Artes.
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
Romantismo (um instrumento de trabalho)

Em http://www.pitoresco.com.br/art_data/romantismo/index.htm encontras uma sequência de textos curtos (em brasileiro) que fornecem conceitos básicos, já abordados nas nossas aulas, sobre o movimento. No fundo da página encontras um link "pintores do período" que dá acesso para a ART CYCLOPEDIA (em inglês). Aí podes consultar algumas sequências de imagens de pintores importantes deste período apesar de lacunas evidentes (não são incluídos Goya nem Delacroix, para citar apenas dois exemplos).
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
Goya

Goya foi um dos mais criativos pintores da História da Arte. Para fazer justiça ao seu incomparável génio podemos olhar.
Recomendo um salto a esta morada
http://www.artchive.com/artchive/G/goya.html
Antes de clicar em "view image list" podes entrar em "The Black Paintings" e passear um pouco nas salas onde o mestre pintou os seus célebres murais.
Boa viagem!
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
Caspar David Friedrich

Evocando a força poderosa da Natureza em paisagens gigantescas e majestosas aborda a condição precária e transitória da existência humana. As personagens que povoam os seus quadros surgem frequentemente de costas, meros figurantes no palco imenso da Natureza.
Ruínas, catedrais góticas, cemitérios, naufrágios, florestas impenetráveis ou árvores solitárias, constituem temas da sua preferência.
Apesar de tudo a sua pintura não é particularmente mórbida, a morte surge como qualquer coisa de familiar e sereno. Há na sua obra um silêncio imenso, quase palpável, um romantismo comovente...
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
Exposição obrigatória!!!

Um Amadeo do tamanho do mundo!
Finalmente tive oportunidade de visitar a exposição "Amadeo de Souza-Cardoso: Diálogo de Vanguardas", uma excelentíssima mostra de pintura com apontamentos de escultura (pouquinhos) e desenho (muitos).
Ao longo da visita vai crescendo a convicção da grandeza de Amadeo.O cruzamento das abordagens estéticas que o artista português foi elaborando fruto do contacto com as diferentes sensibilidades e vanguardas que conheceu é bem conseguido e a exposição tem o condão de ser límpida como um copinho de água da chuva.
À medida que o visitante avança em direcção à sala onde estão reunidas as mais mediáticas realizações de Amadeo, vai crescendo a percepção da grandeza da sua obra e da excelência do seu génio criativo (o espaço dedicado aos originais do álbum "XX dessins" é revelador... comovente, mesmo!).
Amadeo foi e continua a ser, como exaltou Almada Negreiros, "a primeira Descoberta de Portugal na Europa do séc. XX", um pequeno milagre de um Deus invejoso que resolveu roubá-lo à humanidade quando ainda mal pudera ter descoberto quem era e o que podia fazer entre nós.
Uma exposição a não perder que tem apenas o defeito de durar muito pouco tempo (termina a 14 de Janeiro). Tal como a vida deste pintor imenso, do tamanho do mundo!
Seguem-se alguns links a consultar:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amadeo_de_Souza-Cardoso
http://pintoresportugueses.blogs.sapo.pt/arquivo/124544.html
http://www.uc.pt/artes/6spp/amadeo1.html
http://oseculoprodigioso.blogspot.com/2005/10/souza-cardoso-amadeo-de-cubismo.html
Etc., etc., etc.