«A linguagem ornamental da Arte Nova acabou por estagnar (...) em simples jogos decorativos. Já antes da Primeira Guerra Mundial este estilo era criticado e troçado, e isto só se viria a alterar com o início da onda nostálgica, nos anos 70 do século XX.
O austríaco Adolf Loos, um percursor do Movimento Moderno, postulava, num artigo fortemente polémico de 1908, que o ornamento era, no geral, "um crime", uma vez que os produtos decorados eram mais caros de produzir mas não podiam ser vendidos por preços mais altos, pelo que os operários só recebiam salários de miséria; além disso os produtos tornavam-se obsoletos antes de estarem gastos devido à evolução da moda: "O ornamento comete um crime ao prejudicar gravemente as pessoas no que respeita à saúde, aos recursos nacionais e, deste modo, ao seu desenvolvimento cultural. E ainda: "Já superámos o ornamento, conseguimos vencê-lo e libertarmo-nos dele. Olhai, é chegado o tempo, a realização espera-nos. Em breve as ruas das cidades brilharão como paredes brancas!" Com esta profecia Loos andava perto da realidade e as suas próprias obras - como a Casa Goldman & Salatsch, em Viena (1909-1911 na imagem acima) eram, com as suas fachadas lisas, isentas de ornamentos e as suas formas simples, uma verdadeira provocação.»
in História da Arquitectura, da Antiguidade aos nossos dias, de Jan Gympel, página 82, 1996 Könemann, edição portuguesa em 2000
Loos é um dos primeiros arquitectos/designers do início do século XX a enfatizar uma realização artística na arquitectura que ultrapasse conscientemente e de forma eficaz os constrangimentos académicos dos revivalismos historicistas em voga na viragem do século. A Arte Nova tivera a capacidade de transformar os novos materiais (o ferro e o vidro) em elementos construtivos plenamente assumidos, conferindo-lhes a dupla função de organizar o espaço e decorá-lo. Com os seus ferros forjados em elegantes linhas sinuosas, contribuiu para a criação de uma linguagem plástica adequada ao novo século XX.
A perspectiva de Loos ultrapassa a visão Arte Nova, propondo uma arquitectura mais lúcida e racional que representasse um mundo verdadeiramente novo, em ruptura com o passado. As suas ideias estarão na base de um pensamento mais racionalista e funcionalista que irá desenvolver-se na arquitectura ocidental, melhor adequada aos desafios das grandes cidades contemporâneas, numa perspectiva de beneficiar o interesse das massas ao interesse particular do indivíduo. Estamos a assistir aos primeiros passos do Modernismo na arquitectura que irá impor a sua regra até meados dos anos 60.
1 comentário:
Muito bom. Absolutamente didatico. Parabéns!
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