domingo, 18 de janeiro de 2015

O Teatro na Roma Antiga - 1 (módulo 2)


O público grego, quando assistia à representação de tragédias presenciava a reelaboração de mitos e histórias que constituíam o núcleo central da sua própria Cultura.

Em Roma, a herança desta tradição teatral, torna-se um tanto estranha para os cidadãos romanos. Só um público restrito, formado pelas elites culturais romanas, estava apto a compreender e interpretar as complexas questões dos deuses e heróis gregos.

Passa a existir uma cultura de origem grega, para as classes privilegiadas, (cultura erudita ou clássica) e outra para as classes mais desfavorecidas, que adapta os temas herdados da Grécia (baixa cultura ou cultura popular).

O teatro romano é, talvez, o primeiro exemplo desta divisão cultural que subsiste até aos nossos dias de forma muito vincada.

A literatura aristocrática (alta cultura) podia dirigir-se unicamente ao seu público, mais restrito. A produção teatral devia destinar-se a um público mais vasto uma vez que as representações teatrais constituíam um importante divertimento no quotidiano das populações.

Para conquistar a simpatia das massas populares, a representação teatral deveria tratar argumentos e ideias que fossem capazes de provocar emoções nas pessoas mais simples.
Para isso os autores romanos adaptavam os temas clássicos por forma a torná-los de mais fácil compreensão.

Nesse sentido a tragédia grega foi reelaborada transformando-se num espectáculo bem mais tenebroso e violento.

Partindo dos modelos helénicos, a máscara dos actores devia ser de grandes dimensões. 
Carantonha disforme, longos cabelos e altos penteados, a estatura exagerada por coturnos enormes, todo este aparato servia aos actores para compor as suas personagens.

A personagem foi ganhando um aspecto cada vez mais imponente chegando mesmo a tornar-se terrível.

As manifestações de dor e de cólera das personagens  ultrapassavam com frequência os limites do decoro, tornando-se atrozes, desenfreadas, assustadoras.
No palco desenrolavam-se, perante o olhar dos espectadores, episódios violentos, assassínios e suicídios, todo o tipo de atrocidades.

O encenador esforçava-se ao máximo para tornar os episódios cada vez mais cruéis para agradar ao gosto do macabro característico do povo de Roma.
As personagens faziam rir os espectadores ou então repugnavam-nos.


“Que espectáculo repugnante e terrível é aquele de um homem ataviado de modo a que a estatura fique desproporcionada, em cima de grandes socas e com uma máscara que ultrapassa a altura da cabeça e cuja boca está escancarada num grande bocejo, como se quisesse comer os espectadores. Para não falar dos chumaços do peito e do ventre que lhe conferem uma corpulência artificial e disforme”

Descrição de um actor trágico na época imperial feita por um espectador

Assim, a tragédia deixa de ser exclusivamente uma manifestação de alta cultura para se transformar em divertimento popular.

O povo mais simples e inculto entretém-se com aquele espectáculo grotesco havendo até quem desmaie de medo perante aqueles fantoches horrendos em que se tornaram os actores por baixo das suas personagens.

Da tragédia irá derivar um novo género de espectáculo que acaba por se identificar com ela.

Trata-se da pantomima. Um coro ou um cantor cantavam as passagens mais belas de conhecidas tragédias, enquanto um único actor mascarado interpretava todas as personagens.
Este actor representava as suas inúmeras mudanças de estado de espírito e de personagem recorrendo a um intenso e variado repertório gestual.

A atenção do espectador deixa de estar exclusivamente centrada no conteúdo da mensagem poética oral para se deslocar para a forma como o actor representa.

Podemos afirmar que na pantomima existe uma tradução literal da linguagem verbal para uma linguagem gestual.



A comédia teve uma história menos agitada.
A trama girava, normalmente, em torno de complicadas aventuras amorosas em que servos espertos inventavam imaginativos estratagemas para satisfazer os desejos de patrões velhos e estroinas.

As máscaras, as perucas e os trajes tinham como função uma representação tipificada da personagens. Através desses sinais o espectador percebia imediatamente se a personagem que entrara em cena era um servo ou um parasita, um sacerdote ou um espertalhão.

A figura central da comédia romana é o jovem. O mote da trama é, normalmente a sua vontade de satisfazer desejos mais ou menos urgentes.
Esta personagem usava uma máscara de traços delicados sem deformações cómicas.
O mesmo acontecia com a personagem da jovem.

No entanto as duas personagens entre as quais se dava o principal confronto, o servo e o velho, tinham traços exageradamente pronunciados.


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