O público grego, quando assistia à representação de tragédias
presenciava a reelaboração de mitos e histórias que constituíam o núcleo
central da sua própria Cultura.
Em Roma, a herança desta tradição teatral, torna-se um tanto estranha
para os cidadãos romanos. Só um público restrito, formado pelas elites
culturais romanas, estava apto a compreender e interpretar as complexas questões
dos deuses e heróis gregos.
Passa a existir uma cultura de origem grega, para as classes
privilegiadas, (cultura erudita ou clássica) e outra para as
classes mais desfavorecidas, que adapta os temas herdados da Grécia (baixa
cultura ou cultura popular).
O teatro romano é, talvez, o primeiro exemplo desta divisão cultural
que subsiste até aos nossos dias de forma muito vincada.
A literatura aristocrática (alta cultura) podia dirigir-se unicamente ao seu público,
mais restrito. A produção teatral devia destinar-se a um público mais vasto uma
vez que as representações teatrais constituíam um importante divertimento no
quotidiano das populações.
Para conquistar a simpatia das massas populares, a representação
teatral deveria tratar argumentos e ideias que fossem capazes de provocar
emoções nas pessoas mais simples.
Para isso os autores romanos adaptavam os temas clássicos por forma a
torná-los de mais fácil compreensão.
Nesse sentido a tragédia grega foi reelaborada transformando-se num
espectáculo bem mais tenebroso e violento.
Partindo dos modelos helénicos, a máscara dos actores devia ser de
grandes dimensões.
Carantonha disforme, longos cabelos e altos penteados, a estatura
exagerada por coturnos enormes, todo este aparato servia aos actores para compor
as suas personagens.
A personagem foi ganhando um aspecto cada vez mais imponente chegando
mesmo a tornar-se terrível.
As manifestações de dor e de cólera das personagens ultrapassavam com frequência os limites do
decoro, tornando-se atrozes, desenfreadas, assustadoras.
No palco desenrolavam-se, perante o olhar dos espectadores, episódios
violentos, assassínios e suicídios, todo o tipo de atrocidades.
O encenador esforçava-se ao máximo para tornar os episódios cada vez
mais cruéis para agradar ao gosto do macabro característico do povo de Roma.
As personagens faziam rir os espectadores ou então repugnavam-nos.
“Que espectáculo repugnante e terrível é aquele de um homem ataviado de
modo a que a estatura fique desproporcionada, em cima de grandes socas e com
uma máscara que ultrapassa a altura da cabeça e cuja boca está escancarada num
grande bocejo, como se quisesse comer os espectadores. Para não falar dos
chumaços do peito e do ventre que lhe conferem uma corpulência artificial e
disforme”
Descrição de um actor trágico na época
imperial feita por um espectador
Assim, a tragédia deixa de ser exclusivamente uma manifestação de
alta cultura para se transformar em divertimento popular.
O povo mais simples e inculto entretém-se com aquele espectáculo grotesco
havendo até quem desmaie de medo perante aqueles fantoches horrendos em que se
tornaram os actores por baixo das suas
personagens.
Da tragédia irá derivar um novo género de espectáculo que
acaba por se identificar com ela.
Trata-se da pantomima. Um coro ou um cantor cantavam as
passagens mais belas de conhecidas tragédias, enquanto um único actor mascarado
interpretava todas as personagens.
Este actor representava as suas inúmeras mudanças de estado de espírito
e de personagem recorrendo a um intenso e variado repertório gestual.
A atenção do espectador deixa de estar exclusivamente centrada no
conteúdo da mensagem poética oral para se deslocar para a forma como o actor
representa.
Podemos afirmar que na pantomima existe uma tradução literal da
linguagem verbal para uma linguagem gestual.
A comédia teve uma história menos agitada.
A trama girava, normalmente, em torno de complicadas aventuras amorosas
em que servos espertos inventavam imaginativos estratagemas para satisfazer os
desejos de patrões velhos e estroinas.
As máscaras, as perucas e os trajes tinham como função uma
representação tipificada da personagens. Através desses sinais o espectador
percebia imediatamente se a personagem que entrara em cena era um servo ou um
parasita, um sacerdote ou um espertalhão.
A figura central da comédia romana é o jovem. O mote da trama é,
normalmente a sua vontade de satisfazer desejos mais ou menos urgentes.
Esta personagem usava uma máscara de traços delicados sem deformações
cómicas.
O mesmo acontecia com a personagem da jovem.
No entanto as duas personagens entre as quais se dava o principal
confronto, o servo e o velho, tinham traços exageradamente
pronunciados.
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