quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Dioniso, o que nasceu duas vezes (módulo 1)

Cortejo dionisíaco (pintura em vaso grego)

Um mito é uma narrativa de caráter simbólico, relacionada com uma dada cultura, que procura explicar e interpretar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, os fenómenos da natureza e da vida humana.

Dioniso, o deus grego do teatro, da dança e da música, nasceu duas vezes.
Hera, a ciumenta esposa de Zeus, convenceu a sua rival mortal, Sémele, a pedir ao deus que este se lhe revelasse na sua forma celestial.
A deslumbrante visão fez com que a amante de Zeus se incendiasse.
Zeus arrancou o filho do ventre de Sémele antes que fosse tarde demais e, para salvar a criança, coseu o feto à sua própria coxa. Findo o período de gestação, Dioniso voltou a nascer.

Facto único entre os deuses, era filho de uma mortal, último deus a chegar ao Olimpo e, de todos, o mais inesperado e inseguro.

A origem e o papel atribuído às divindades do Olimpo varia conforme as épocas e os autores.  O mesmo acontece com Dioniso, o mais estranho dos deuses, a quem alguns atribuíam o regresso da Primavera .

O culto de Dioniso foi associado a todos os elementos liquídos da humidade fertilizante, da chuva e do orvalho, do sangue e da vida, do sémen masculino e da seiva suculenta das plantas. 
Deus também dos regressos bem-aventurados, enchia ânforas com cereais e óleo e alimentava as crias das ovelhas e das vacas.
Baco é outro nome por que ficou conhecido.

Segundo Tucídides, no primeiro dia da mais antiga celebração dedicada a Dioniso, eram abertas pipas de vinho para libações no santuário do deus.
No segundo dia, o dia dos cântaros, era dada a cada participante uma jarra de vinho e faziam-se competições para ver quem primeiro a esvaziava.

Depois fazia-se um desfile com sátiros tocando flauta e a presença do deus sob a forma de um dos habitantes da cidade. Após o sacrifício do touro celebrava-se um casamento simbólico entre o próprio deus e a rainha da cidade.

No último dia proferiam-se orações especiais e procedia-se a um sacrifício em nome da ressurreição dos mortos. Dioniso era simultaneamente o deus da vida e da morte. O Inverno sem vida e a Primavera da renovação eram ambos necessários.

As sacerdotisas de Dioniso chamavam-se bacantes (ou ménades, de mania, loucura) em virtude do êxtase frenético com que exerciam o culto.
As bacantes, oficialmente designadas pelas suas cidades para as Dionísias, louvavam o deus com danças sagradas.

Estas bailarinas não sentiam dor nem fadiga pois estavam possuídas pelos poderes do deus que celebravam.
Divertiam-se ao som de tambores e oboés e, no auge de loucas danças, desfaziam com as mãos um pequeno animal que haviam amamentado ao peito.
O ditirambo, cântico a Dioniso entoado nas festas em sua honra, esteve na origem do teatro grego.
Inicialmente um simples cântico interpretado pelo próprio deus quando estava toldado pelo vinho, o ditirambo transformou-se numa criação coral com uma forma determinada.

Em Atenas, onde era dançado e entoado por 50 homens ou rapazes em torno do altar, o ditirambo era também conhecido por “coro circular”.
A competição de coros ditirâmbicos tinha lugar entre tribos. Cada uma das 10 tribos formava um grupo coral, havendo 5 coros de homens e 5 coros de rapazes.

Estes rituais são considerados os antepassados diretos do teatro.

Os ditirambos aí entoados  e dançados eram danças circulares para coros circulares, rituais inicialmente celebrados numa “orquestra” (termo grego que significava “local de dança”) situada na ágora, ao ar livre, e todos participavam nelas uma vez que não existia um plano elevado para o coro.

O templo do deus ficava suficientemente próximo da orquestra para que, durante os festivais, a imagem sagrada pudesse ser facilmente transportada para o exterior a fim de que o deus assistisse à sua própria celebração.

Para além do deus, ali presente através da sua estátua, não havia outros espetadores.



Sem comentários: