Cortejo dionisíaco (pintura em vaso grego)
Um mito é uma narrativa de
caráter simbólico, relacionada com uma dada cultura, que procura explicar e
interpretar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, os fenómenos da
natureza e da vida humana.
Dioniso, o deus grego do teatro, da dança e da música,
nasceu duas vezes.
Hera, a ciumenta esposa de Zeus, convenceu a sua rival
mortal, Sémele, a pedir ao deus que este se lhe revelasse na sua forma
celestial.
A deslumbrante visão fez com que a amante de Zeus se incendiasse.
Zeus arrancou o filho do ventre de Sémele antes que fosse
tarde demais e, para salvar a criança, coseu o feto à sua própria coxa. Findo o período de gestação, Dioniso voltou a nascer.
Facto único entre os deuses, era filho de uma mortal, último
deus a chegar ao Olimpo e, de todos, o mais inesperado e inseguro.
A origem e o papel atribuído às divindades do Olimpo varia
conforme as épocas e os autores. O mesmo
acontece com Dioniso, o mais estranho dos deuses, a quem alguns atribuíam o
regresso da Primavera .
O culto de Dioniso foi associado a todos os elementos
liquídos da humidade fertilizante, da chuva e do orvalho, do sangue e da vida,
do sémen masculino e da seiva suculenta das plantas.
Deus também dos regressos bem-aventurados, enchia ânforas
com cereais e óleo e alimentava as crias das ovelhas e das vacas.
Baco é outro nome por que ficou conhecido.
Segundo Tucídides, no primeiro dia da mais antiga celebração
dedicada a Dioniso, eram abertas pipas de vinho para libações no santuário do
deus.
No segundo dia, o dia dos cântaros, era dada a cada
participante uma jarra de vinho e faziam-se competições para ver quem primeiro
a esvaziava.
Depois fazia-se um desfile com sátiros tocando flauta e a
presença do deus sob a forma de um dos habitantes da cidade. Após o sacrifício
do touro celebrava-se um casamento simbólico entre o próprio deus e a rainha da
cidade.
No último dia proferiam-se orações especiais e procedia-se a
um sacrifício em nome da ressurreição dos mortos. Dioniso era simultaneamente o
deus da vida e da morte. O Inverno sem vida e a Primavera da renovação eram
ambos necessários.
As sacerdotisas de Dioniso chamavam-se bacantes (ou ménades,
de mania, loucura) em virtude do êxtase frenético com que exerciam o
culto.
As bacantes, oficialmente designadas pelas suas cidades para
as Dionísias, louvavam o deus com danças sagradas.
Estas bailarinas não sentiam dor nem fadiga pois estavam
possuídas pelos poderes do deus que celebravam.
Divertiam-se ao som de tambores e oboés e, no auge de loucas
danças, desfaziam com as mãos um pequeno animal que haviam amamentado ao peito.
O ditirambo, cântico a Dioniso entoado nas festas em sua
honra, esteve na origem do teatro grego.
Inicialmente um simples cântico interpretado pelo próprio
deus quando estava toldado pelo vinho, o ditirambo transformou-se numa criação
coral com uma forma determinada.
Em Atenas, onde era dançado e entoado por 50 homens ou
rapazes em torno do altar, o ditirambo era também conhecido por “coro
circular”.
A competição de coros ditirâmbicos tinha lugar entre tribos.
Cada uma das 10 tribos formava um grupo coral, havendo 5 coros de homens e 5 coros
de rapazes.
Estes rituais são considerados os antepassados diretos do
teatro.
Os ditirambos aí entoados
e dançados eram danças circulares para coros circulares, rituais
inicialmente celebrados numa “orquestra” (termo grego que significava “local de
dança”) situada na ágora, ao ar livre, e todos participavam nelas uma vez que
não existia um plano elevado para o coro.
O templo do deus ficava suficientemente próximo da orquestra
para que, durante os festivais, a imagem sagrada pudesse ser facilmente
transportada para o exterior a fim de que o deus assistisse à sua própria
celebração.
Para além do deus, ali presente através da sua estátua, não
havia outros espetadores.
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