Entre nós a palavra "tragédia” é utilizada para designar um acontecimento doloroso, catastrófico ou para descrever algo extraordinariamente negativo.
Para os gregos significava outra coisa:
tragédia definia, acima de tudo, uma forma
artística, ou algo que somente ocorria entre os grandes, os nobres, os
heróis ou os deuses.
No campo das artes, tal como nas reuniões sociais, no
atletismo e em outras atividades culturais, os gregos adoravam competir.
Gostavam de competições nos festivais que ocorriam durante
as celebrações das Grandes Dionísias que tinham lugar no início Primavera,
em honra de Dioniso.
Nesse festival os tragediógrafos concorriam a um prémio, com
uma tetralogia composta por três tragédias e uma peça satírica cada.
Gostavam de louvar e premiar os vencedores. Criavam um júri
composto por 10 juízes, um de cada tribo da Ática, que juravam dar um veredicto
imparcial.
O vencedor era anunciado pelo arauto e homenageado com uma
coroa de louros. Por vezes os espectadores protestavam violentamente contra um
prémio impopular.
Depois de Téspis a tragédia grega evoluiu rapidamente. A
criação da tragédia grega deveu-se grandemente a 3 autores dos quais chegou até
nós apenas uma pequena amostra do seu trabalho: aproximadamente 30 peças de um
conjunto de 300.
A literatura grega reúne três grandes autores de
tragédias, cujos trabalhos atravessaram os séculos e são, ainda hoje,
frequentemente levados a cena em todo o mundo ocidental:
Ésquilo, Sófocles e Eurípides.
Ésquilo é
reconhecido frequentemente como o “pai” da tragédia.
De acordo com Aristóteles,
Ésquilo aumentou o número de personagens usadas nas peças de modo a permitir a
criação de conflitos entre elas (aumentou para 2 o número de atores).
Aumentando o número
de atores, Ésquilo reduziu a atuação do coro e deu à parte falada (o diálogo) o
papel principal da peça.
Ésquilo combateu os
persas nas batalhas de Maratona e de Salamina.
Apenas sete de um
total estimado de setenta a noventa peças criadas pelo autor chegaram aos dias
de hoje sendo Os Persas a mais antiga que conhecemos.
Um tema será
importante em grande parte dos seus textos: o da pólis como exemplo vital
para o desenvolvimento da civilização humana.
As peças de Sófocles
retratam frequentemente personagens nobres e da realeza.
Sófocles terá
escrito 123 peças teatrais durante sua vida, mas apenas sete chegaram completas
aos dias de hoje.
Ao longo de quase 50
anos, Sófocles foi o mais celebrado dos dramaturgos nos concursos
dramáticos da cidade-estado de Atenas.
Sófocles competiu
em cerca de 30 Dionisíacas, venceu 24 e nunca terá ficado abaixo do segundo
lugar; em comparação, Ésquilo venceu 14 concursos e foi derrotado por Sófocles
várias vezes, enquanto Eurípides ganhou apenas quatro competições.
Nas suas tragédias,
mostra dois tipos de desafios à ordem do cosmo: o que decorre do excesso de
paixão e o que é consequência de um acontecimento acidental (destino).
Transformou o papel
do coro, tornando-o parte integrante do enredo.
Elevou o número de
atores de dois para três.
As peças de Eurípides
não são acerca dos deuses ou da realeza, mas
sobre pessoas reais. Colocou em cena camponeses ao lado
de príncipes e deu igual peso aos seus sentimentos.
Mostrou a realidade
da guerra, criticou a religião, falou
dos excluídos da sociedade: as mulheres,
os escravos e os velhos.
Em
termos dramatúrgicos Eurípedes adicionou o Prólogo à peça,
no qual “situa a cena” (apresenta o que se vai passar).
Ao longo da sua
vida, Eurípides foi considerado quase um marginal e foi frequentemente satirizado nas comédias de Aristófanes.
Eurípides foi
autor do qual chegaram até nós um maior número de peças trágicas: dezoito
no total.
A tragédia clássica
deveria cumprir, segundo Aristóteles, três condições: possuir personagens de
elevada condição (heróis, reis, deuses), ser contada numa linguagem
esmerada e digna e ter um final triste.
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