quarta-feira, 27 de maio de 2015

6 - Mistérios e representações sagradas (módulo 4)

A instituição teatral que desaparecera na Alta idade Média, volta a ganhar forma ao longo do século XIII.

Espectáculos variados, uns com fundo religioso e moral (moralidades e milagres), outros profanos (farsas) começam a ser representados em pequenos palcos.
Muitas vezes, estes espectáculos, são promovidos por grupos  amadores ou associações de diversas origens.

A partir do século XIV muitas cidades chamam a si a responsabilidade de promover (organizar e pagar) um teatro de carácter celebrativo.
Estes espectáculos aconteciam em ocasiões especiais principalmente de carácter festivo e religioso.

Estes espectáculos são geralmente designados pelo termo “mistérios”.

As primeiras “representações sagradas” encenadas fora das igrejas e sem nenhum vínculo à cerimónia litúrgica, foram dirigidas por clérigos e mantinham uma certa ligação com o recinto sagrado.

O Mistério é uma forma de teatro cristão que encena e dramatiza as Sagradas Escrituras e a vida dos santos cruzando estas narrativas com cenas e situações da vida quotidiana.

Muitas vezes, os Mistérios eram representados no espaço defronte à igreja que funcionava, ela própria, enquanto cenário simbolizando as portas do Paraíso ou o próprio paraíso.

O significado mais importante destas representações está na sua visualização da história sagrada.
Para os católicos da Idade Média, estas narrativas continham, tal como as populares Biblia Pauperum, tudo o que eles precisavam de saber.

Eram representações onde, tanto as histórias gloriosas do Antigo Testamento ou da vida de Cristo, como vulgares cenas de taverna, se representavam com idêntica intensidade e realismo.
Havia uma íntima relação entre o facto histórico divino e os acontecimentos meramente humanos, uma mistura do sagrado com o profano.

A representação dos Mistérios devia manter-se sempre num tom humilde, embora forçado na expressão dos sentimentos.
Certamente prevalecia uma mímica intensa e sem complexos, gesticulação não só com braços e rosto mas com todo o corpo.
Existem descrições de violentas expressões de dor de Adão e Eva que se atiram ao chão batendo com o peito e as coxas.

Ao que parece, a visualização da narrativa sagrada terá sido o aspecto mais importante dos Mistérios. Pelo menos tão importante quanto a dramatização.
Isto porque há notícia de muitas representações que consistiam em quadros vivos e mudos.
A compreensão do significado narrativo destes quadros podia ser auxiliada por cartazes que tanto podiam descrever a situação como conter as palavras de uma personagem.

Tratar-se-ia de simples quadros vivos, Mistérios sem palavras nem movimento, como se diz a propósito de uma representação em Paris no ano de 1424.


Isto mostra a importância do aspecto ilustrativo e uma certa predilecção pelo espectacular, característicos dos Mistérios medievais.

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