A
instituição teatral que desaparecera na Alta idade Média, volta a ganhar forma
ao longo do século XIII.
Espectáculos
variados, uns com fundo religioso e moral (moralidades e milagres), outros
profanos (farsas) começam a ser representados em pequenos palcos.
Muitas
vezes, estes espectáculos, são promovidos por grupos amadores ou associações de diversas origens.
A partir do
século XIV muitas cidades chamam a si a responsabilidade de promover (organizar
e pagar) um teatro de carácter celebrativo.
Estes
espectáculos aconteciam em ocasiões especiais principalmente de carácter
festivo e religioso.
Estes
espectáculos são geralmente designados pelo termo “mistérios”.
As primeiras
“representações sagradas” encenadas fora das igrejas e sem nenhum vínculo à
cerimónia litúrgica, foram dirigidas por clérigos e mantinham uma certa ligação
com o recinto sagrado.
O Mistério é
uma forma de teatro cristão que encena e dramatiza as Sagradas Escrituras e a
vida dos santos cruzando estas narrativas com cenas e situações da vida
quotidiana.
Muitas
vezes, os Mistérios eram representados no espaço defronte à igreja que funcionava,
ela própria, enquanto cenário simbolizando as portas do Paraíso ou o próprio
paraíso.
O
significado mais importante destas representações está na sua visualização da
história sagrada.
Para os
católicos da Idade Média, estas narrativas continham, tal como as populares
Biblia Pauperum, tudo o que eles precisavam de saber.
Eram
representações onde, tanto as histórias gloriosas do Antigo Testamento ou da
vida de Cristo, como vulgares cenas de taverna, se representavam com idêntica
intensidade e realismo.
Havia uma
íntima relação entre o facto histórico divino e os acontecimentos meramente
humanos, uma mistura do sagrado com o profano.
A
representação dos Mistérios devia manter-se sempre num tom humilde, embora
forçado na expressão dos sentimentos.
Certamente
prevalecia uma mímica intensa e sem complexos, gesticulação não só com braços e
rosto mas com todo o corpo.
Existem
descrições de violentas expressões de dor de Adão e Eva que se atiram ao chão
batendo com o peito e as coxas.
Ao que
parece, a visualização da narrativa sagrada terá sido o aspecto mais importante
dos Mistérios. Pelo menos tão importante quanto a dramatização.
Isto porque
há notícia de muitas representações que consistiam em quadros vivos e mudos.
A
compreensão do significado narrativo destes quadros podia ser auxiliada por
cartazes que tanto podiam descrever a situação como conter as palavras de uma
personagem.
Tratar-se-ia
de simples quadros vivos, Mistérios sem palavras nem movimento, como se diz a
propósito de uma representação em Paris no ano de 1424.
Isto mostra
a importância do aspecto ilustrativo e uma certa predilecção pelo espectacular,
característicos dos Mistérios medievais.
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