domingo, 24 de maio de 2009

Lichtung II, de Emmanuel Nunes


Nota introdutória:
Este Caso Prático é de difícil compreensão por se situar num campo da criação artística pouco acessível a um espectador comum, como eu e, decerto, também tu, leitor.
A música contemporânea parece-me difícil.

Imagino que algo semelhante aconteça em relação à pintura contemporânea, quando olhada por alguém que não tenha ainda iniciado o seu estudo.

Como a sonoridade da música de Emmanuel Nunes é completamente diversa das sonoridades a que estamos habituados e que normalmente são veiculadas pelos mass media, os nossos ouvidos tendem a recusá-la aos primeiros acordes. É uma música estranha e, aparentemente, disforme.

Tal como numa pintura expressionista abstracta não conseguimos relacionar a forma e o conteúdo do objecto visual com nada que exista no mundo "real", também não encontramos uma relação directa entre esta música e a que estamos habituados a consumir. Quase poderíamos considerá-la uma "música abstracta", embora esta rotulagem seja, decerto, abusiva.

Há, no entanto, uma cadeia de relações que Emmanuel Nunes estabelece entre o seu trabalho e as artes plásticas (ler esta entrevista de 1991 com o compositor) que permitem desenvolver algumas ideias capazes de lançar um pouco de luz sobre estas sombras nebulosas que impedem a compreensão de tão abstruso Caso Prático.





Emmanuel Nunes


Caso Prático 2- Lichtung II, de Emmanuel Nunes

A obra foi dedicada à pintora Maria Helena Vieira da Silva. Segundo o autor, Lichtung I e II, não resultam de uma inspiração directa nos quadros de Vieira da Silva, têm sobretudo a ver com a forma como ele conhece e vive a obra da pintora "há em ambos uma estrutura rigorosa, ainda que excessiva e cheia de imaginação".
(consultar a página 20 e seguintes do manual referente à 1ª parte do 2º nível)

Parece-me que o interesse de analisar a obra de Emmanuel Nunes se prende, principalmente, com a maneira como a estética influencia a técnica e a importância que esta ganha relativamente ao resultado final do objecto sonoro.

Em Lichtung II, o desejo de dissertar musicalmente sobre coisas tão etéreas como "a claridade depois da tempestade, a clareira de um bosque ou o içar da âncora de um barco" é tentado através do recurso a uma parafrenália técnica que acaba por determinar o ambiente sonoro final. Procura-se relacionar os meios acústicos com meios electroacústicos e informáticos.-

A concepção da obra joga ainda com a disposição dos diferentes tipos de fontes sonoras no espaço onde a peça é executada ao vivo. Isto exige uma adaptação específica a cada espaço físico, obrigando a uma reinterpretação acústica das partituras. O resultado será uma linguagem musical complexa em termos conceptuais e auditivos.

O compositor descreveu a sua complexa obra como "cubismo em movimento".


Capa da edição discográfica de Lichtung I e II



Para ouvires uma peça musical de Emmanuel Nunes clica aqui.


Nota final:
A música deste compositor está longe de ser consensual e, mesmo entre melómanos convictos, há quem considere a sua obra demasiado formal e de difícil digestão. A estreia em Portugal da sua ópera intitulada Das Märchen, em Janeiro do ano passado, provocou uma discussão acesa sobre a(s) sua(s) qualidade(s) (ver crítica aqui com entrada para diferentes Blogues com textos sobre o mesmo assunto, ver um pequeno vídeo aqui).

Como deves compreender, a contemporaneidade raramente é uma coisa pacífica.


Aspecto de Das Märchen

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