sexta-feira, 1 de maio de 2009

Cubismo (apontamentos da aula)


Casas em L’Estaque, Georges Braque, óleo sobre tela, 1908



O Cubismo foi um dos movimentos mais importantes para a história da arte do século XX. Surgem as primeiras experiências visuais que põem em causa a “caixa renascentista”, fundamentada nas 3 dimensões do mundo físico e nas leis da perspectiva.

O Cubismo procurou descrever objectos e eventos por formas impossíveis de efectuar com recurso à máquina fotográfica.

O objectivo foi conseguido quando, em vez de se representar o motivo (objecto, pessoa ou paisagem) tomado de um ponto de vista fixo e particular, se resolveu fazê-lo sob vários pontos de vista, colocados em simultâneo sobre um único plano bidimensional.

Quando conseguiram determinar um processo razoável de representação, no qual associaram às 3 dimensões do mundo físico uma quarta, o tempo, dimensão invisível e de natureza abstracta, os cubistas iniciaram uma das maiores revoluções da história da arte.

Na sua busca de uma linguagem plástica capaz de organizar logicamente as sensações visuais, os cubistas converteram de novo a pintura numa “coisa mental”. O processo de execução, a procura dessa linguagem, torna-se mais importante do que o próprio resultado.

Embora os cubistas se tivessem afastado progressivamente da imitação das aparências, encarando a pintura como uma coisa composta, um facto pictórico autónomo relativamente à realidade exterior, nunca perderam de vista a natureza que reinventaram constantemente nas suas obras.

Considera-se que o Cubismo evoluiu em 3 fases.
A 1º decorreu entre 1907 e 1909 e resultou das influências de Cézanne e da escultura africana, muito em voga na época. O seu começo é habitualmente marcado pela obra de Picasso, Les Demoiselles d’Avignon, de 1906-07.

Esta fase é designada como cezanniana. As obras caracterizam-se pelas temáticas de paisagem, natureza-morta e de figura humana em atelier.

Nota-se a representação racional e geométrica das formas; do contorno quebrado; da manutenção dos volumes, um desdobramento dos planos ainda hesitante; rostos esquemáticos e simplificados e uma evidente redução da paleta cromática.

A segunda fase, analítica ou hermética, durou de 1909 a 1912 e foi a que mais vincadamente marcou o imaginário popular.

Nas obras desta fase os objectos aparecem-nos desmultiplicados numa infinidade de planos (diferentes pontos de vista) que se confundem uns com os outros (bidimensionalidade) misturando a forma com o fundo (sobreposição, simultaneidade).

A paleta reduz-se ainda mais que na fase anterior e a sugestão de movimento desaparece da tela, passando para o olhar do observador.

Acentua-se a ideia de que a pintura é uma realização plástica que obedece a regras próprias. O artista representa uma idealização do objecto. Representa aquilo que sabe e não exactamente aquilo que vê.

Assim, o que está representado na tela afasta-se do modelo que lhe deu origem. Com a ajuda do título, o espectador é convidado a um jogo de identificação visual, combatendo a abstracção pura que algumas pinturas poderão sugerir.

A 3ª, a fase sintética, prolongou-se de 1912 a 1914 propondo uma simplificação do espaço pictórico sintetizando os planos. Os objectos tornam-se mais identificáveis graças a uma maior depuração das formas.

Reduziram os pontos de vista dos objectos, sintetizando os planos. Também a paleta se altera, ganhando maior variedade cromática. Assim, as pinturas do Cubismo Sintético ganham um aspecto diferente do que tinham no Cubismo Analítico.

Na passagem da fase analítica à sintética, Braque e Picasso introduzem nos quadros fragmentos de objectos reais por meio de colagem. Esta prática veio revolucionar o conceito de obra de arte pictórica.

Juan Gris foi um importante intérprete do Cubismo Sintético ao qual emprestou rigor (alguém o chamou de “cubista de régua e esquadro”) e uma vibração cromática espectacular (algo que Picasso e Braque nunca experimentaram).
Pode dizer-se que Gris praticou um “cubismo científico”.
Depois de Picasso e Braque partirem para outras aventuras estéticas, Gris continuou a sua exploração e reflexão sobre as qualidades do cubismo sintético até à data da sua morte, em 1927

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