segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Barroco 1


Visão e visões
A Europa católica, primeira metade do século XVII

A história da arte é descrita, por vezes, como a história de uma sucessão de vários estilos. Ficámos a saber que, ao Estilo Românico ou Normando do século XII, com os seus arcos de volta inteira, sucedeu o Estilo Gótico, com o arco ogival; que o Estilo Gótico foi superado pela Renascença, cujos começos foram na Itália, em princípios do século XV, e lentamente se propagou a todos os países da Europa. O estilo que sucedeu à Renascença é usualmente chamado Barroco. Mas, enquanto é fácil identificar os estilos anteriores por características definidas de reconhecimento, a tarefa não é tão simples no caso do Barroco. O facto é que, da Renascença em diante, quase até ao nosso tempo, os arquitectos usaram as mesmas formas básicas: colunas, pilastras, cornijas, entablamento e molduras - todas elas inspiradas originalmente em ruínas clássicas. Num certo sentido, portanto, pode afirmar-se que o estilo renascentista de construção se estendeu desde o tempo de Brunelleschi até aos dias de hoje, e muitos livros sobre arquitectura referem-se a todo esse período como Renascença. Por outro lado, é natural que, dentro de um período tão extenso, os gostos e as modas em construção tenham variado consideravelmente, e é aconselhável dispormos de rótulos distintos, mediante os quais possamos diferenciar essas variações estilísticas. É estranho que muitos desses rótulos, para nós simples designações de estilos, foram originalmente palavras de injúria ou de escárnio. A palavra "gótico" foi usada inicialmente pelos críticos de arte italianos da Renascença para caracterizar um estilo que consideravam bárbaro e que, na opinião deles, fora introduzido na Itália pelos godos, os quais destruíram o Império Romano e saquearam as suas cidades. A palavra"maneirismo" ainda retém, para muita gente, a sua conotação original de artifício e imitação superficial, de que os críticos do século XVII haviam acusado os artistas do final do século XVI. A palavra "barroco" foi empregue pelos críticos de um período ulterior que lutavam contra as tendências seiscentistas e queriam expô-las ao ridículo. "Barroco", de facto, significa anómalo ou grotesco, e o termo era empregue por homens que insistiam em que as formas das construções clássicas jamais deveriam ser usadas ou combinadas senão da maneira adoptada por gregos e romanos. Desprezar as severas normas da arquitectura antiga parecia, a esses críticos, uma deplorável falta de gosto - e daí terem apodado o estilo de barroco.

In, A História da Arte, E. H. Gombrich, Edição portuguesa Público, 2005, página 387.

Sem comentários: