quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A cultura do palácio 3 - Ser um artista

O novo espírito renascentista foi também impulsionado pela redescoberta da cultura clássica (greco-romana) adoptada por oposição à cultura medieval.

A própria imagem social do artista se alterou por completo.
Os artesãos medievais, criadores anónimos, simples instrumentos de Deus, reflexos da Sua vontade, dão lugar a um novo tipo de artista: um intelectual, dotado de particular talento técnico, capaz de raciocinar e criar novas formas e complexas soluções narrativas.

Em suma: o artista do Renascimento é um criador e não mero reprodutor de formas predefinidas.

A concepção da arte como ciência, contribuiu para que alguns artistas fossem capazes de fazer valer as suas capacidades identitárias (individualismo).

A partir desta época grande parte das obras de arte passam a ser assinadas e o artista a ser reconhecido publicamente. Os mais populares tornaram-se verdadeiras celebridades e a sua fama chegou até aos dias de hoje.

O reconhecimento público das capacidades individuais dos artistas elevou o seu estatuto social. O artista deixa de ser olhado como um trabalhador braçal, equivalente a um pedreiro ou um carpinteiro, agora é visto como um trabalhador intelectual especializado e passa a conviver com as elites sociais.

Frequentam as cortes, contactam com escritores, filósofos e cientistas, nobres e príncipes, burgueses abastados, que os patrocinam e para cuja glória contribuem as suas criações artísticas.

Verdadeiramente admirável e celeste foi Leonardo (…). O seu raciocínio era de grande vigor (…); exprimia tão bem o seu pensamento que dominava pela argumentação e confundia pelo discurso as mais vigorosas inteligências. Inventava sem cessar projectos e modelos (…). A sua conversa era tão agradável que atraía a simpatia; quase sem fortuna e trabalhando regularmente, teve sempre servos, cavalos de que muito gostava e todas as espécies de animais de que se ocupava com interesse e paciência infinitos. Conta-se que, passando no mercado de pássaros, libertava-os da gaiola, pagava o preço pedido e deixava-os voar para lhes restituir a liberdade perdida.

Giorgio Vasari, Elogio a Leonardo da Vinci, em Vidas


Fazendo renascer o esplendor do mundo clássico, a arte do Renascimento foi racional e científica, procurando reproduzir a Natureza ora de forma tecnicista e rigorosa, ora de forma intelectualizada e ideal.

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