segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A Cultura do Cinema - 3 - Realismo e Naturalismo (Stanislavski)

À frente do Teatro de Arte de Moscovo, Stanislavski (1863-1938) foi um encenador rigoroso. Cada representação era precedida por um longo e cuidadoso estudo da época em que a acção se desenrolava, fosse na Rússia dos czares ou na Roma republicana, no caso de Júlio César de Shakespeare.

Stanislavski manifestou o mesmo empenho quando se tratou de representar ambientes  da época. Para conhecer o modo de vida dos pobres de Moscovo a companhia organizou uma deslocação aos dormitórios públicos para os sem-abrigo e aos locais mal-afamados da cidade, tal como se havia deslocado a Roma para encenar Júlio César.

Cada fala nascia do contexto de uma pequena acção quotidiana. Jogar às cartas, coser, cozinhar, partindo de situações reais da vida dos pobres tal como descrita no texto (No Fundo, peça da autoria de Máximo Gorki)

O acontecimento mais significativo resultou do encontro de Stanislavski com Anton Tchekov (1860-1904). Este encontro permitiu o esclarecimento dos valores fundamentais do teatro (de Stanislavski): um minucioso realismo cénico e cenográfico opera com a finalidade de revelar psicologicamente a personagem.

Existiam duas formas distintas de representação, que marcaram a evolução das artes cénicas no século XIX: o teatro tradicional (bastante estilizado, onde o actor exibia gestos codificados) e a técnica inovadora de representação realista.

Os objectos em cena eram sempre rigorosamente verdadeiros (embora sobre um fundo cenográfico pintado)
Os sons exteriores à cena – o ladrar de um cão, um canto longínquo, o sopro do vento – conferem credibilidade, antes do mais, para o actor, depois para o espectador ao definirem o espaço onde decorre a cena.
Os elementos cenográficos, os adereços, os sons, o guarda-roupa, a iluminação, não se destinam exclusivamente ao espectador. São também concebidos em função da capacidade do actor em “reviver” a personagem e a cena que é representada.


Stanislavski procura sistematizar um conjunto de regras e processos para uma boa representação em palco.

A arte do actor é a arte da revivescência: o actor deve reviver os sentimentos, as paixões, as próprias sensações da personagem que interpreta, para a preencher com a vida que anteriormente adivinhou e esboçou. Essa arte não é praticada apenas uma vez, mas sempre que o actor representa a sua personagem.

Portanto, segundo Stanislasvski, não existem representações, propriamente ditas, já que o actor, sempre que pisa o palco, revive  a cena que está a representar.

O actor de Stanislasvski pode trazer à memória uma emoção já vivida, um sentimento já experienciado, uma paixão, uma recordação de infância, executando um determinado gesto, assumindo determinada postura e deverá comportar-se como quem sente tais emoções, sentimentos e paixões.

O actor não revive sentimentos e paixões que não lhe pertençam, mas sim aquilo que é seu, que vem do fundo do seu ser, através do que Stanislavski define como  “memória emotiva”.

O actor terá de conhecer a sociedade em que a personagem vivia, a sua casa, a sua cidade, os seus amigos, o seu passado, isto é, terá de recriar a história da sua vida em função da personagem que interpreta.

O encenador, o cenógrafo, o luminotécnico e o sonoplasta deverão rodear o actor de todos os elementos necessários à criação realista da personagem.

O realismo cénico de Stanislavski é determinado em função do realismo psicológico.

Trata-se, idealmente, de um realismo absoluto na medida em que aquilo que o espectador vê não é uma ficção, mas sim realidade psicológica que se desenrola perante o seu olhar.

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