Antes de passar a alguns dos textos da aula de 19 de Abril aconselho que cliques na etiqueta do "Fauvismo", aí ao lado, onde podes encontrar mais informação e reflexões sobre o tema.
"O pintor já não precisa de se preocupar com pormenores insignificantes; para isso está lá a fotografia que é melhor e mais rápida. - Já não cabe à pintura representar acontecimentos históricos; esses encontram-se nos livros. Temos da pintura uma opinião mais elevada. Ela serve ao artista para exprimir as suas visões interiores. Ver é já, em si, um acto criativo."
Henri Matisse
Estas palavras de Matisse colocam em equação algumas das questões essenciais da pintura Moderna.
Por um lado acentua o carácter independente da pintura em relação ao motivo que lhe dá origem. A representação da natureza transforma-se num simples pretexto para o pintor desenvolver o seu trabalho, materializando uma visão pessoal e interior. O acto de pintar já não assenta na reprodução do mundo visível segundo um conjunto de regras académicas pré-definidas, antes é resultado de um instinto artístico de fundamentos estéticos que permite ao artista "exprimir as suas visões interiores".
Por outro lado, ao declarar que "ver é já, em si, um acto criativo", Matisse abre a porta à ideia de que a visão pessoal e particular do artista é determinante, mas coloca também no olhar do espectador uma parte da responsabilidade na conclusão do trabalho artístico. Ou seja, o observador recria interiormente o objecto artístico filtrando-o no seu olhar.
"O esforço que é preciso para nos libertarmos das imagens fabricadas (através da fotografia, dos filmes e dos reclames), exige uma certa coragem e essa coragem é indispensável ao artista que deve ver tudo como se o estivesse a ver pela primeira vez. É preciso ser-se capaz de ver pela vida fora como quando em crianças víamos o mundo, pois a perda dessa capacidade de ver significa a perda de toda a expressão original"
Henri Matisse
Mais uma vez Matisse insiste na ideia de que o acto criativo deve ser originado por um estado de pureza estética apenas ao alcance de um olhar liberto de regras pré-concebidas. Quando somos crianças não encontramos entraves à nossa expressão individual. Se pedirmos a uma criança de 5 anos que desenhe uma girafa ela não hesita e desenha-a. Independentemente do aspecto que tiver o desenho, ali estará, inequivocamente, uma girafa. Se pedirmos a um adolescente de 15 anos que desenhe uma girafa, ele irá resistir à ideia declarando que "não sabe" desenhar uma girafa. O que mudou nesses 10 anos? Porque perdemos nós o instinto natural da sabedoria expressiva ao longo do processo de crescimento?
A resposta parece evidente; à medida que vamos crescendo e adquirimos mais informação sobre o mundo que nos rodeia, temos a impressão de que a representação que fizermos dele deve obedecer a um conjunto de regras de aproximação à "realidade", ou seja: construimos um modelo ideal de representação (académico) que passa pela semelhança formal entre o que representamos e aquilo que é representado, estabelecendo assim uma escala de valores com "certo" e "errado" nos seus extremos, conforme o resultado é visualmente próximo ou afastado desse modelo.
O que Matisse propõe é que recuperemos a capacidade de expressão original através de um processo criativo que combata as regras académicas e se fundamente num olhar descomprometido vendo "tudo como se estivessemos a ver pela primeira vez".
2 comentários:
O fauvismo é sem duvida que um movimento extremamente interessante na minha opiniao chega mesmo a ser fascinante ... :)
Concordo plenamente. Tem o fascínio da descoberta, como se os pintores entrassem na selva para caçarem animais selvagens sem outras armas que não as da sua própria imaginação .
:-)
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