segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Notas sobre arquitectura barroca

Fachada e altar principal da Catedral de Santiago de Compostela, Galiza


Um forte apelo aos sentidos

A arquitectura do Barroco foi sobretudo marcada pela entrada em acção da Contra-Reforma. O poder eclesiástico e temporal era absoluto e de origem divina. A arquitectura barroca veio representar com a grandeza e a sumptuosidade apropriadas a autoridade de ambos os poderes. Os meios utilizados eram semelhantes: o poder era encenado, os sentidos do observador estimulados; os objectivos eram a desorientação e a subjugação.
(...)
in, História da Arquitectura - da Antiguidade aos nossos dias, direcção de Jan Gympel, Ed. Könemann, página 53

A arte de inspiração católica produzida ao longo do período barroco (1600-1780 é um intervalo possível que se pode alargar conforme as obras observadas) tem uma intenção clara e uma finalidade evidente: é uma arte ao serviço dos poderosos, um meio de propaganda dos poderes instituídos.

Sendo a arquitectura a forma de expressão plástica mais completa, na medida em que serve de suporte às restantes expressões, conjugando-as em grandes narrativas de leitura complexa, é aí que encontramos com maior nitidez a materialização do espírito grandioso e dramático característico da época.
Partindo do princípio que toda a arte barroca é uma encenação, as suas construções serão palcos sumptuosos que servem às mil maravilhas a exibição esmagadora do poderio do rei absoluto e dos seus aliados no seio da igreja.

O homem comum é reduzido à sua insignificância perante a riqueza do espectáculo e a grandeza do edifício. O homem comum pode apenas aspirar à humilde condição de espectador daquele teatro de vaidades. Numa sociedade de ordens sabe que o mundo fascinante das ociosas classes dominantes lhe é absolutamente vedado. Pode apenas aspirar a um lugar no Paraíso, após a morte, se respeitar com rigor as regras impostas pelo Concílio de Trento. E a forma como imagina o Paraíso é, decerto, moldada por aquilo que vê (e o que não vê) das grandes catedrais e dos palácios, das figuras dos cortesãos e dos grandes senhores da igreja.

O mundo do barroco é um mundo injusto e desigual e, como seria de esperar, a arte por ele influenciada materializa de forma grandiosa os contrastes dessa época.


7 comentários:

Frioleiras disse...

existe , talvez , um pouco de exacerbamento ao considerares a arte barroca injusta e ao serviço dos poderosos. Afinal o renascimento não o foi? ao serviço dos poderosos?

pelo contrário imediatamente antes, em pleno movimento da contra-reforma, o maneirismo até que era sóbrio e era em pleno c. de trento.

talvez a exacerbada seja eu... porque adoro o barroco!

D.J. Dicks disse...

ja visitastes uma igreja de cranios na cidade de évora?

Silvares disse...

Frioleiras, a arte esteve, durante muito tempo, ao serviço dos poderosos. Bem vistas as coisas, mesmo nos dias que correm, a arte que passa nos mass media, ainda está. Só que agora os serviços prestados são de outra categoria.

Extase, já. É a Capela dos Ossos.

Camilla Ribeiro disse...

Quiçá não precise de um fim mesmo, mas alguns ainda parecem inevitáveis... Obrigada pelo comentário! E, espero em breve colaborar por aqui novamente.

Beijos,
Camilla Ribeiro.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francine Esqueda disse...

Otimo post! Estou passando o Barroco para os meus alunos do ensino medio...
Quanto tempo!
Valeu passar aqui!
Estava com saudades! Agora com um pouco menos de trabalho vou me dedicar muito mais a blogosfera! Vc vai ver! Me aguarde!
Bjos

Selena Sartorelo disse...

Olá,

Caminhando por esse espaço chego até aqui percebendo observações inteligentes e consistentes de conhecimento. Apreciar a arte de maneira muito própria em sua criação, identificar o momento histórico em que ela foi concebida, e perceber as diferentes maneiras que o artista registra o tempo em que vive e o momento em que ele vive esse tempo.

abraços,
Selena