Gil Vicente (1465-1536) foi um dramaturgo e poeta português.
Criador de numerosos autos* e farsas, é considerado o maior representante do
teatro popular em Portugal.
Gil Vicente terá nascido em Guimarães, no ano de 1465. O seu
nome apareceu pela primeira vez ligado ao teatro, em 1502, quando escreveu e
encenou o “Auto da Visitação” ou “Monólogo do Vaqueiro”, em homenagem ao
nascimento do príncipe D. João, futuro D. João III.
O monólogo foi originalmente escrito em castelhano, em que
um simples homem do campo expressa a sua alegria pelo nascimento do herdeiro do
trono de Portugal, desejando-lhe felicidades.
O Auto da Visitação tem elementos claramente
inspirados na "adoração dos pastores", de acordo com os relatos do
nascimento de Cristo.
A encenação incluía a oferta de prendas simples e rústicas,
como leite, ovos e queijos, ao futuro rei, ao qual se pressagiavam grandes
feitos.
Gil Vicente que, além de ter escrito a peça, também a
encenou e representou, usou o quadro religioso natalício numa perspectiva
profana.
Gil Vicente tornou-se responsável pela organização dos
eventos palacianos. Retratou através de suas peças, os valores populares e
cristãos da vida medieval.
O teatro português não nasceu com Gil Vicente.
Já no reinado de Sancho I, os dois actores mais antigos
portugueses, Bonamis e Acompaniado, realizaram um espectáculo de
"arremedilho“ tendo sido pagos pelo rei com uma doação de terras.
O arcebispo de Braga, Dom Frei Telo, refere-se, num
documento de 1281, a representações litúrgicas por ocasião das principais
festividades católicas.
E há registo de outras representações anteriores ao “Auto da
Visitação”.
No entanto, poucos exemplos restam dos textos pré-vicentinos
e Gil Vicente é considerado o primeiro grande dramaturgo português.
A sua obra vem no seguimento do teatro ibérico popular e
religioso que se fazia, ainda que de forma menos profunda que a do
mestre.
O seu teatro caracteriza-se por ser primitivo e popular,
embora tenha surgido no ambiente da corte, para servir de entretenimento.
Gil Vicente escreveu mais de quarenta peças, em espanhol e
em português, onde criticou de forma impiedosa a sociedade de seu tempo. O
valor do teatro vicentino reside na sátira, muitas vezes agressiva,
contrabalançada pelo pensamento cristão.
A sua obra é rica pela universalidade dos temas.
A sua observação satírica não deixou ninguém de fora: papa,
rei, clero feiticeiras, alcoviteiras, judeus, moças casadoiras e agiotas.
A galeria de tipos é rica e variada e muitos foram
ridicularizados: a imperícia dos médicos - “Farsa dos Físicos”, a prática das
feiticeiras - “Auto das Fadas”, o comportamento do clero – “O Clérigo da
Beira”, e por aí adiante.
São geralmente apontados, como aspectos positivos das suas
peças, a imaginação e a originalidade; o sentido dramático e o conhecimento da
problemática do teatro.
Alguns autores consideram que a sua espontaneidade, apesar
de reflectir de forma eficaz os sentimentos colectivos e exprimir a realidade
criticável da sociedade a que pertencia, perde em reflexão e em requinte.
A sua forma de expressão é simples e directa, sem grandes
floreados poéticos.
A última obra de Gil Vicente, é um típico divertimento
cortesão. Seguro do seu estilo, cria situações dramáticas, cómicas ou
patéticas, equilibrando-as.
O Prólogo é apresentado de forma interessante.
Em lugar de um personagem, o autor faz entrar dois, um
acorrentado ao outro, criando uma alegoria relacionada com um provérbio da
época: "Se queres matar um homem prudente, ata ao seu pé um
ignorante".
O filho, Luís Vicente, na primeira compilação de todas as
suas obras, classificou-as em autos e mistérios (de carácter sagrado e
devocional) e em farsas, comédias e tragicomédias (de
carácter profano).
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