terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A cultura do palco (3) – espaço de representação


A representação teatral necessita de um espaço que a suporte.

Normalmente, quando pensamos em Teatro, imaginamos uma sala específica: uma plateia para os espectadores, um palco para os actores…
… mas, o espaço teatral (theatron, o local onde se vê), sendo uma manifestação da arte da arquitectura, tem-se transformado ao longo da sua história.

Não assume uma forma definitiva.

A partir da separação entre quem assiste e quem interpreta, houve necessidade de pensar o espaço de modo a responder a necessidades muito específicas.

É a tal separação entre plateia e palco.

Como se existisse uma fronteira entre o espaço real, habitado pelo espectador e uma outra dimensão, uma dimensão mágica: a dimensão da representação, onde algumas pessoas se transformam em actores e assumem outra realidade.

Enquanto o Teatro mereceu o apoio dos poderosos e foi manifestação de cultura (popular ou erudita) teve espaços arquitectónicos específicos para as suas representações (Grécia e Roma).

Após a queda do Império Romano do Ocidente e durante o período histórico que designamos por Idade Média, o Teatro foi considerado como obra de contornos pouco cristãos e quase desapareceu. Por essa razão, a arquitectura teatral deixou de ter visibilidade.

Quando regressou, na forma de Mistérios, o Teatro foi acolhido no próprio espaço da Igreja. Primeiro no interior do templo, mais tarde no espaço defronte à sua entrada.

A representação desenrolava-se em estrados erguidos para o efeito ou em carroças, quase sempre ao ar livre. Onde houvesse aglomeração de pessoas era um local adequado à representação teatral.

Isto fez com que, neste período, algum teatro ganhasse contornos mais populares e menos eruditos. A separação entre duas formas de expressão teatrais (uma para a elites e outra para o povo, separação que já vinha dois tempos do Império Romano) é cada vez mais notória.

Os trovadores, os malabaristas, actores e contadores de histórias, deslocavam-se em busca de público, representando tanto nas praças de igrejas e mercados como nos salões dos palácios da nobreza.

Naqueles tempos era o artista que procurava o público. Nos dias de hoje é o público que procura o artista, deslocando-se a locais específicos, as salas de espectáculo.

Com o Renascimento e na transição para o Barroco (séculos XVI/XVII), o Teatro ganha novamente notoriedade e conhece um período de grande expansão.

Ressurgem os espaços arquitectónicos exclusivamente destinados à representação teatral.

As características do edifício teatral irão evoluir e transformar-se mas o essencial da sua distribuição espacial fica definida pela tal fronteira entre espectador e actor, a tal linha imaginária que separa a plateia do palco.


Chama-se a este tipo de espaço, palco ou sala à italiana por ter sido em Itália que o conceito foi desenvolvido. 

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