terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A cultura do palco (5) – o espectáculo isabelino


O espectáculo teatral da época isabelina (renascimento/maneirismo/barroco) caracteriza-se pela valorização do texto enquanto elemento principal e aglutinador da acção.

Os temas e as formas de abordagem são muito variados tentando, sobretudo, corresponder aos anseios do público ao qual os autores se dirigem.

O espectáculo isabelino pode ir da levíssima comédia alegórica à profundidade escura de uma tragédia de contornos clássicos ou às histories(peças que abordam temas históricos).  Estas categorias principais admitem, consoante os críticos, os historiadores ou especialistas, uma série infindável de subgéneros.

Há, no entanto, formas de ultrapassar estas classificações. Shakespeare, para dar o exemplo mais famoso, mistura nos seus dramas o trágico e o cómico, o sério e o ridículo tal “como sucede na vida”. As suas peças alcançam uma dimensão que escapa à classificação académica e gera uma forma teatral muito particular.

O cenário do teatro isabelino não tinha um carácter representativo , não representava um ambiente particular.

O lugar onde a acção se desenrolava podia ser indicado por alguns acessórios ou, talvez, por elementos pintados na cortina mais recuada no palco mas nunca (ou muitíssimo raramente) através de elementos que transfigurassem o espaço de representação.

Era o espectador que tinha de imaginar ou deduzir o ambiente em que a cena se desenrolava partindo da acção e das palavras do texto. Os acessórios de cena só seriam utilizados caso contribuíssem para o desenvolvimento da cena e raramente seriam incluídos com a finalidade de indicarem o local da acção.
Como seria possível ao espectador seguir o percurso das personagens no espaço e no tempo ao longo da narrativa? Philip Sidney, um poeta da época, descreve assim um espectáculo:

“Agora vêem-se 3 mulheres que vão colher flores e, por isso, devemos crer que o cenário é um jardim. Depois percebemos que, no mesmo lugar, ocorreu um naufrágio e, então, censuramo-nos se não acharmos  que o cenário é um rochedo, mas do fundo deste surge um monstro horrível com fogo e fumo e, então, os pobres espectadores são levados a entrar numa caverna. Entretanto aparecem 2 exércitos, representados por 4 espadas e escudos, e quem terá o coração de pedra capaz de não permitir ver ali um campo de batalha?”

Era o actor, com o seu gesto e a sua palavra, que colocava a acção em determinado local ou expunha a passagem do tempo. Por isso mesmo os acessórios eram como extensão ou suporte da actuação dos actores.


Assim, a mímica dos actores tinha uma particular densidade, não por ser exagerada ou violenta, mas porque era elemento essencial para descrever tanto o estado de espírito e as reacções psicológicas das personagens como o local onde decorria a acção e o ambiente, de um modo geral. 

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