À frente do Teatro de Arte de Moscovo, Stanislavski
(1863-1938) foi um encenador rigoroso. Cada representação era precedida por um
longo e cuidadoso estudo da época em que a acção se desenrolava, fosse na
Rússia dos czares ou na Roma republicana, no caso de Júlio César de
Shakespeare.
Stanislavski manifestou o mesmo empenho quando se tratou de
representar ambientes da época. Para
conhecer o modo de vida dos pobres de Moscovo a companhia organizou uma
deslocação aos dormitórios públicos para os sem-abrigo e aos locais
mal-afamados da cidade, tal como se havia deslocado a Roma para encenar Júlio
César.
Cada fala nascia do contexto de uma pequena acção
quotidiana. Jogar às cartas, coser, cozinhar, partindo de situações reais da
vida dos pobres tal como descrita no texto (No Fundo, peça da autoria de Máximo
Gorki)
O acontecimento mais significativo resultou do encontro de
Stanislavski com Anton Tchekov (1860-1904). Este encontro permitiu o esclarecimento
dos valores fundamentais do teatro (de Stanislavski): um minucioso realismo
cénico e cenográfico opera com a finalidade de revelar psicologicamente a
personagem.
Existiam duas formas distintas de representação, que
marcaram a evolução das artes cénicas no século XIX: o teatro tradicional
(bastante estilizado, onde o actor exibia gestos codificados) e a técnica inovadora
de representação realista.
Os objectos em cena eram sempre rigorosamente verdadeiros
(embora sobre um fundo cenográfico pintado)
Os sons exteriores à cena – o ladrar de um cão, um canto
longínquo, o sopro do vento – conferem credibilidade, antes do mais, para o
actor, depois para o espectador ao definirem o espaço onde decorre a cena.
Os elementos cenográficos, os adereços, os sons, o
guarda-roupa, a iluminação, não se destinam exclusivamente ao espectador. São
também concebidos em função da capacidade do actor em “reviver” a personagem e
a cena que é representada.
Stanislavski procura sistematizar um conjunto de regras e
processos para uma boa representação em palco.
A arte do actor é a arte da revivescência: o actor deve reviver
os sentimentos, as paixões, as próprias sensações da personagem que
interpreta, para a preencher com a vida que anteriormente adivinhou e esboçou. Essa
arte não é praticada apenas uma vez, mas sempre que o actor representa a
sua personagem.
Portanto, segundo Stanislasvski, não existem representações,
propriamente ditas, já que o actor, sempre que pisa o palco, revive a cena que está a representar.
O actor de Stanislasvski pode trazer à memória uma emoção já
vivida, um sentimento já experienciado, uma paixão, uma recordação de infância,
executando um determinado gesto, assumindo determinada postura e deverá
comportar-se como quem sente tais emoções, sentimentos e paixões.
O actor não revive sentimentos e paixões que
não lhe pertençam, mas sim aquilo que é seu, que vem do fundo do seu
ser, através do que Stanislavski define como
“memória emotiva”.
O actor terá de conhecer a sociedade em que a
personagem vivia, a sua casa, a sua cidade, os seus amigos, o seu passado, isto
é, terá de recriar a história da sua vida em função da personagem que
interpreta.
O encenador, o cenógrafo, o luminotécnico e o sonoplasta
deverão rodear o actor de todos os elementos necessários à criação realista da
personagem.
O realismo cénico de Stanislavski é determinado em função do
realismo psicológico.
Trata-se, idealmente, de um realismo absoluto na medida em
que aquilo que o espectador vê não é uma ficção, mas sim realidade psicológica
que se desenrola perante o seu olhar.
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