No seu período de afirmação medieval, o cristianismo
assumira uma posição de rejeição em relação à cultura clássica.
A Igreja, tentara, através da transformação e extensão dos
rituais em formas espectaculares, esgotar em si a vida espiritual dos fiéis incluindo
aquilo que nos dias de hoje poderemos designar por vertente recreativa e
cultural.
Foi assim que, ao longo do calendário religioso, se
acrescentaram (ou mesmo sobrepuseram) manifestações festivas aos rituais da
missa, no interior das igrejas.
Muitas vezes o ritual era contrafeito e parodiado. Noutras
ocasiões realizavam-se danças e jogos que podiam degenerar em explosões
orgíacas.
A partir de certo momento, a Igreja preferiu optar pela
pureza do ritual da missa do que integrar estas manifestações de tendência
considerada pagã.
Assim acabaram todas as manifestações de entretenimento e de
paródia como também as extensões dramáticas do ritual: o drama litúrgico foi
abolido e os mistérios afastados do recinto sagrado.
O latim foi adoptado, definitivamente, enquanto língua
exclusiva do ritual litúrgico.
A celebração da missa acabou por encerrar-se sobre si
própria.
O clero participa e realiza o ritual, aos fiéis é exigida,
apenas, a sua presença.
Os Mistérios, os Milagres, as representações sagradas
vêem-se separados da sua fonte e saem do recinto religioso tornando-se formas
de teatro populares.
O teatro regressa às ruas dos burgos.
Com o “renascimento do mundo antigo” – processo que irá
desenvolver-se centrado na Itália e que levará à afirmação de uma cultura
aristocrática e elitista (o poder afirma-se através do gosto) – o teatro será
abordado sob diferentes pontos de vista:
- literário
- arquitectónico
- cenográfico
- cénico
O teatro religioso irá cruzar-se com o “novo” teatro que
desponta no século XVI. Assiste-se à recuperação das formas teatrais clássicas
de pendor erudito.
O teatro saiu do recinto religioso para reencontrar o seu
lugar no mundo laico.
As comédias clássicas romanas constituíam o centro vital das
festas de corte.
A cultura clássica tornava-se elemento integrante da vida
aristocrática.
Os convidados só chegavam ao pátio onde era montado o teatro
após uma longa festa com baile.
O espectáculo tinha, além da representação dramática, um
desfile dos trajes que iriam ser usados pelos actores pois nenhum traje era
usado duas vezes.
Mesmo quem tinha de representar “escravos gregos, servos,
patrões, mercadores” (normalmente os actores eram pessoas da corte) vestia
trajes luxuosos e modernos.
É difícil imaginar como se representavam as comédias,
normalmente interpretadas pelos intelectuais
da corte.
Entre os actos e no final das comédias eram inseridas curtas
acções espectaculares, os entreactos, geralmente momentos de mímica e dança.
Talvez pela sua maior intensidade espectacular, os
entreactos cedo começaram, a ser mais apreciados que as comédias que geralmente
se tornavam mais pesadas devido a más traduções do latim.
Sem comentários:
Enviar um comentário