quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A Cultura do Cinema -5- O tempo das Vanguardas (notas sobre teatro)

O teatro de vanguarda terá surgido no final do século XIX (juntamente com as restantes vanguardas artísticas) sendo considerada a peça Rei Ubu, de Alfred Jarry, um dos primeiros espectáculos vanguardistas.

Rei Ubu era (é) uma estranha e violenta comédia, uma espécie de Macbeth grotesco e escatológico.
A representação deveria ser anti naturalista,  os actores parecerem-se com marionetas fazendo gestos recortados e mecânicos.

Rei Ubu introduz no palco uma violenta agressividade contra o público, o absurdo, o simbolismo primário, um grotesco incomodativo, a dissolução da linguagem, repleta de palavras inventadas e expressões sem sentido.

Rei Ubu resulta um espectáculo cruel com uma cenografia simplificada e reduzida a uns poucos elementos indicativos.

As roupas eram infantis e grotescas, os cavalos dos soldados eram paus com uma cabeça de cartão, tudo devia basear-se numa confusão extrema mas calculada.
A desconcertante proposta do teatro de Jarry estará na origem do niilismo* corrosivo dos dadaístas.

*Niilismo é uma doutrina filosófica que indica um pessimismo e cepticismo extremos perante qualquer situação ou realidade possível. Consiste na negação de todos os princípios religiosos, políticos e sociais.
Ser niilista é ser alguém que não se curva perante nenhuma autoridade; nem aceita nenhum princípio sem o questionar.

Nas suas representações, os dadaístas procuraram pôr em causa a linguagem e a lógica, chegando à desconstrução do espectáculo e à provocação directa dos espectadores.

Os dadaístas apresentavam-se na primeira pessoa (eu) e o espectáculo podia consistir apenas na leitura de poesia, na apresentação de manifestos ou em afirmações polémicas.

Propuseram também trabalhos com um mínimo de estrutura dramática mas sempre com uma intenção declarada de subverter as regras introduzindo recursos inesperados e inauditos.

Um monólogo dito por oito actores em “Aventuras Celestes do Sr. Antipirina” de Tristan Tzara num texto absurdo sem nenhum significado sociológico ou psicológico e uma cenografia constituída por poucos elementos sem sentido nem função, mas reconhecíveis por serem objectos reais.

Num outro espectáculo de Tzara, “Coração Movido a Gás”, representado em 1921, as personagens eram Pescoço, Nariz, Orelha, Olho, Boca e Clitemnestra, dispersas por vários pontos da sala e representadas por actores vestidos com fatos emblemáticos.

O espectáculo teatral ganha uma outra dimensão afastando-se de todas as convenções anteriores e abrindo uma imensidão de novas possibilidades.

Os movimentos de vanguarda tentaram relacionar produção com teoria.
Muitas vezes a teoria precedeu a prática e os autores de vanguarda procuraram experimentar novas soluções artísticas.


Esta atitude designa-se por experimentalismo.

Sem comentários: