domingo, 27 de novembro de 2016

A Cultura da Gare: 11 - Breve História do Teatro: da Idade Média ao Romantismo (4) Melodrama e temas históricos



A tragédia entrou em declínio nos séculos XVII e XVIII, talvez por manter ainda um profundo sentimento social e religioso, evoluindo na direção do drama do melodrama

Melodrama
Peça teatral de carácter popular, na qual se acumulam, em tom patético, sentimentos e acções de exagerada dramaticidade.[Por Extensão] Qualquer atitude ou facto desse teor.



O melodrama teatral é um género complexo de espetáculo cénico que se desenvolveu após a Revolução Francesa.
Com forte influência do teatro das feiras e da pantomima, no melodrama são utilizadas máquinas, cenas de combate, danças e todo o tipo de truques espetaculares na construção dos espetáculos.

O melodrama torna-se, no início do século XIX, o género teatral mais amado e popular, bem como o mais desprezado pelos admiradores da tragédia e da comédia erudita.
A fórmula do melodrama pode resumir-se em duas palavras: inocência perseguida.

Os papéis melodramáticos fundamentais são os do malvado perseguidor e o da jovem honesta e enamorada.
Em torno deles pairam uma série de personagens patéticas (o enamorado honesto e o pai afetuoso)
ou definitivamente cómicas.
Mas o papel central é o do vilão, ambicionado por todos os atores altos e de perfil espectral.

A ambientação das narrativas era frequentemente medieval mas também não faltavam temas de inspiração social da atualidade da época.
Eram muito populares as fantasias românticas inspiradas em histórias tristes e sangrentas.

A componente sensacionalista e obscura era muito procurada.
O herói podia ser um bandido famoso no qual o povo projetava os seus sentimentos de revolta.
A ação era rica em golpes narrativos inesperados, trepidante, conduzida por personagens com uma psicologia elementar, sem variações, transpondo uma mensagem moral extremamente simples.

Mas o teatro romântico teve outras formas de expressão, além do melodrama.
Na Alemanha foi muito popular a representação de obras com um fundo histórico e intenções moralizantes.
Por volta de 1790 havia cerca de 70 companhias ativas em solo alemão e pelo menos 30 tinham uma sede e uma sala de espetáculos.
Muitos municípios subsidiavam estas companhias que estabilizaram os seus métodos de produção.

Um dos mais importantes nomes do romantismo alemão e europeu foi Goethe; dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, ele foi ainda encenador e intérprete introduzindo a ideia de anteceder os ensaios teatrais de longos períodos de estudo teórico.

Goethe definiu um conjunto de regras para os atores que aplicava com rigidez nas suas encenações.
O ator devia eliminar da dicção todas  as inflexões de dialeto , apresentar-se sem grandes ímpetos e não mudar bruscamente de tom de voz.
A postura do corpo devia ser adequada: peito para fora, braços junto ao tronco até aos cotovelos, cabeça ligeiramente inclinada na direção do interlocutor mas não mais do que o necessário para estar sempre a três quartos para o público.
O ator devia mostrar-se sempre educado.

Shakespeare foi o autor mais representado nos finais do século XVII e princípio do século XIX em toda a Europa. Mas o teatro clássico era apenas uma das muitas formas de expressão que subiam aos palcos das salas nas principais cidades europeias.

Assim, a par do drama gótico, que encenava histórias de fantasmas e de aventuras medievais, encontravam-se dramas equestres, dramas náuticos e até um drama canino no qual os intérpretes eram cães amestrados.

No século XIX uma sessão teatral inglesa durava aproximadamente 5 horas, das sete da tarde à meia-noite. Depois da 1.ª parte o público podia entrar por metade do preço. Assim, muitas vezes, depois da representação de um drama a sessão terminava com farsas, pantomimas, ballets e outros entretenimentos.

A Cultura da Gare: 10 - Breve História do Teatro: da Idade Média ao Romantismo (3) Commedia dell'arte



As origens exatas desta forma de comédia são desconhecidas.
Terá sido inspirada pelas farsas populares, burlescas e grosseiras, que se praticavam na Roma antiga,as Atelanas.

A commedia dell'arte fascinou e atraiu todo o tipo de público, mesmo entre as classes sociais mais elevadas.
As melhores companhias conseguiram levar as suas peças da rua para o palácio, fascinando audiências mais nobres.
Devido a esse apoio, foi-lhes permitido ultrapassar as fronteiras do seu país de origem e viajar por toda a Europa.

Os grupos de atores itinerantes montavam um palco ao ar livre e divertiam através de malabarismos, acrobacias e, mais tipicamente, peças de humor improvisadas, baseadas num repertório de personagens preestabelecidos.

As personagens eram identificadas pelo figurino, máscaras, e eventuais adereços cénicos.

Na trama tradicional, os innamorati (enamorados) querem casar-se, mas um ou mais vecchi (velhos) querem impedi-los; os velhos recorrem à ajuda de um ou mais zanni  (criados) para conseguirem o que pretendem.

Tipicamente termina tudo bem com o casamento dos enamorados e o perdão generalizado por todas as confusões causadas.

As representações de commedia dell’arte fundaram um estilo e uma linguagem, caracterizando-se pela utilização do cómico.

As encenações da commedia dell’arte baseavam-se na criação colectiva. Os actores apoiavam-se num esquema orientador e improvisavam os diálogos e a acção, deixando-se levar ao sabor da inspiração, criando o desejado efeito cómico.

Eventualmente, as soluções para determinadas situações foram sendo interiorizadas e memorizadas, pelo que os actores se limitavam a adicionar pormenores que o acaso proporcionava, acrescentando acrobacias.

O elevado número de dialectos que se falavam na Itália pós-renascentista determinou a importância que a mímica assumia neste tipo de comédia. O seu uso exagerado servia, não só o efeito do riso, mas a comunicação em si.

Muitas vezes os cenários resumiam-se a uma enorme tela pintada com a perspectiva de uma rua, de uma casa ou de um palácio.

O actor surge assim como o elemento mais importante neste tipo de peças. Sem grandes recursos materiais, eles tornaram-se excelentes intérpretes, levando a teatralidade ao seu expoente mais elevado.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Cultura da Gare: 9 - Breve História do Teatro: da Idade Média ao Romantismo (2) Molière


Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (Paris, 15 de Janeiro de 1622 — Paris, 17 de Fevereiro de 1673), foi um dramaturgo francês, além de actor e encenador, considerado um dos mestres da comédia satírica.

Teve um papel de destaque na dramaturgia francesa, até então muito dependente da temática da mitologia grega. Molière usou as suas obras para criticar os costumes da época. Apesar de preferir o género trágico tornou-se famoso pelas suas farsas.
Integrou diferentes companhias participando em tournées pela província. Conseguiu o apoio de vários mecenas poderosos acabando por se fixar no Teatro do Palácio Real vindo a beneficiar da protecção do rei Luís XIV.

Tartufo foi encenado em Versalhes, em 1664, tornando-se no maior escândalo da carreira artística de Molière. A descrição da hipocrisia geral das classes dominantes e, principalmente, do clero, foi considerada ofensiva.
Utilizando como mote a aristocracia francesa, em luta para manter os seus privilégios, a burguesia ascendente, ávida por ampliar o seu estatuto social e ainda o papel intriguista dos religiosos, Molière desconstrói a hipocrisia da estrutura social da época, desmascarando o farsante Tartufo.
Tartufo é um símbolo dessa estrutura que usa em proveito próprio. Ele é capaz de mentir, roubar, enganar, com o mero objectivo de conseguir mais privilégios.
Tudo em nome de Deus.
A peça mantém-se actual ao denunciar males eternos e "universais", como a corrupção, a hipocrisia religiosa, a ocupação de cargos de poder por mentirosos manipuladores.

Diz-se que Moliére morreu no palco, representando o papel principal da sua última peça: O Doente Imaginário.
Na verdade, terá desmaiado durante a actuação, vindo a falecer, horas mais tarde, na sua cama.
Diz-se também que estava vestido de amarelo, o que gerou a superstição de que esta cor é fatídica para os actores.

Molière foi responsável pela popularidade da comédia no teatro moderno.
Como encenador ensinou os seus actores a utilizarem o naturalismo para enriquecerem a actuação, resultando um teatro mais próximo do espectador.
Molière utilizava expressões comuns, ao contrário do que acontecia no teatro clássico.

Também na composição das personagens há uma aproximação à realidade; elas retratam as contradições e o ridículo da natureza humana.
Construiu personagens populares como o devoto, o nobre, o pedante, o ambicioso e desmascarou-os, sem dó nem piedade mas com muito humor.
 
Num formato cómico, acessível ao grande público (incluindo a nobreza), Molière abordou temas difíceis e atingiu um grau de reflexão normalmente só presente no teatro trágico.

A Cultura da Gare: 8 - Breve História do Teatro: da Idade Média ao Romantismo (1)



Durante o Renascimento o teatro europeu deixou de ser quase exclusivamente de inspiração religiosa como aconteceu ao longo da Idade Média.
Assumiu-se cada vez mais como "teatro popular", mas já mais "profissionalizado", com a comédia separada da tragédia e com os autores a ganharem importância e independência criativa.

A comédia ganhou novo alento na Itália, graças à influência do folclore, assistindo-se ao apogeu da commedia dell´arte que viria a influenciar vários autores por toda a Europa.

O teatro "nacional" desenvolveu-se, principalmente em Inglaterra e Espanha, evocando as memórias antigas e os feitos e grandezas do passado, misturando o mundo da cavalaria com os clássicos da Antiguidade redescobertos. Isso mesmo pode ver-se em Shakespeare, um autor do seu tempo e dos tempos antigos, com o seu Falstaff, por exemplo.
Falstaff ou 'Sir John Falstaff' é uma personagem cómica criada por William Shakespeare, presente em várias de suas peças. Falstaff é um fanfarrão e um boémio. Em Henrique V, Falstaff é um dos amigos de adolescência do rei que, após a ascensão de Henrique ao trono, acaba por ser desrespeitado e abandonado pelo monarca. Triste e abatido, acaba por morrer numa taverna junto a antigos amigos.

Os adros das igrejas eram entretanto substituídos por novos "palcos", mais profanos, mais concorridos e com públicos mais diversificados: da estalagem às praças, das feiras aos salões reais.
Aparecem as companhias, os géneros, os guarda-roupas e cenários, e até lucro com os bilhetes das peças, por via de investimentos importantes, mecenato ou protecção de actores particulares (por reis, famílias nobres...).

A Cultura da Gare: 7 - O Herói Romântico (esboço de personagem)



Herói (significado)
1.indivíduo que se destaca por um ato de extraordinária coragem, valentia, força de carácter, ou outra qualidade considerada notável;
2.aquele que é admirado por qualquer motivo, constituindo o centro das atenções;
3.CINEMA, LITERATURA protagonista;
4.MITOLOGIA personagem nascida de um ser divino e outro mortal.

O herói romântico é motivado por uma virtual conflitualidade - com os outros, com a sociedade, consigo mesmo – directamente condicionada pela radicalidade com que assume determinados valores românticos”
Dessa forma, este personagem encarna a solidão, a tristeza, a desilusão que, quando ligadas a conflitos amorosos, tendem a resultar em situações de grande tragicidade.
Podemos perceber, portanto, que aquilo que afirmamos ser o típico “herói romântico” é um “mártir do amor”.

Resultando de um conjunto de características excepcionais e invulgares, os heróis românticos apresentam-se como figuras monstruosas que despertam simultaneamente o fascínio e a abjecção.
A repulsa prende-se tanto com questões morais (com uma rejeição/aceitação dos comportamentos dos heróis), como com questões físicas associadas a questões morais.
Trata-se, portanto, de elementos que perturbam a identidade, o sistema e a ordem, destruindo as fronteiras sociais e não respeitando posições definidas, nem regras, nem fronteiras ou limites impostos socialmente.